Meus pais foram o que de mais precioso a vida me deu. E muito cedo tomei consciência que um dia chegaria a minha vez de olhar por eles e retribuir toda a dedicação e entrega por mim. É certo que nunca pensei que o destino me chamaria tão cedo. Mas a vida é assim mesmo: não tem hora nem data marcada para alterar o percurso de cada um de nós...
Curiosamente a vida dá-nos sinais e ajusta-se sem que muitas vezes nos apercebamos e cabe-nos a nós decifrar o que ela nos coloca. Andava eu desconcertada com a perda de uma grande cliente quando na verdade o destino ajustava a minha vida de forma a dar espaço a outras coisas que estavam para vir: cuidar do meu pai.
E assim de forma tão natural vejo-me a reorganizar tudo em função desta nova realidade. A falta de tempo de que me queixava para satisfazer as minhas necessidades de "bom vivant" aparece agora convertido em tempo que se faz sobrar à força para nele caber todo o tempo preciso para apoiar os pais. Habituei-me a ver através dos outros que esta etapa seria penosa. Mas eu não sinto isso. De cada vez que cuido do meu pai tenho a certeza que é ali que quero estar.
Reorganizar a vida, ao contrário do que seria de esperar, só me permitiu redireccioná-la e sem querer acabei por melhorá-la. Abri espaço para o meu pai e acabou por sobrar para mim. Novos projectos , desta vez literários, começaram a ganhar espaço nesta minha vida onde não havia espaço senão para o trabalho. E aprendi que quando realmente assim o queremos arranjamos tempo para tudo e que aquilo que hoje sentimos como perdas, amanhã transformam-se em ganhos. Na vida nada é a perder. Tudo se transforma. E o mau é apenas a passagem de um ciclo que termina para outro que se inicia...
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