O que se diz a uma mãe que acaba de perder um filho? O que se diz a alguém a quem a morte arrancou sem prévio aviso metade do seu ser? O que se diz a quem os lábios debitaram toneladas de afecto, cujos braços confortaram quilómetros de vezes no seu regaço e agora resta-lhe o vazio imenso?
Nada. Não se diz nada. Porque nada, é a forma melhor de se dizer o que não se pode dizer... Porque as palavras é o que menos se quer ouvir a menos que seja para dizer que tudo não passou de um sonho mau. A menos que seja para dizer "ele partiu mas vem já...", a menos que seja para dizer que tudo não passa de invenções dos paparrazi cor de rosa... É no silêncio que falamos. Silêncio profundo carregado de dor seguido de um abraço forte onde se chora junto... em silêncio. Porque só nele ouvimos a voz do coração e só ela pode confortar uma mãe de tamanha devassa.
Eu sei que todos os dias há mães que perdem filhos, mas a Judite não é só mais uma mãe. É alguém que todos os fins de semana entrava na minha casa para me dizer boa noite e dar-me a conhecer as últimas novidades do país e do mundo. Fazia parte da minha vida como tantas outras coisas. E não consigo ler as notícias que saem sobre o assunto sem que as lágrimas me corram copiosamente pelo rosto. Uma angustia profunda tomou conta do meu peito como se de repente sentisse que a qualquer momento poderei ser eu a próxima vítima. Porque ela não escolhe credos, nem religiões, status ou idade. Ela vem sorrateiramente ávida de morte e transforma em noite a nossa vida implacavelmente sem mandato, sem sinais, sem nada...
Hoje como tantas vezes, meu filho pediu-me para dormir com ele. E ao contrário de tantas outras vezes, acedi sem demoras nem contestações. Marimbei-me para aquilo que é correcto ou errado. Deixei que se enroscasse em mim e na penumbra do quarto pedia baixinho a quem me ouvisse, que não deixasse meus filhos "partirem" antes de mim... Porque hoje mais do que nos outros dias não quero saber o que isto é. Não quero experimentar esta ausência macabra, não quero ser castrada do meu único e verdadeiro sentido da vida. Não quero que me rasguem a alma arrancando-me o que de melhor soube fazer: ser mãe.
E porque nada se diz a uma mulher que perde um filho, nada digo à Judite. Ofereceu-lhe o meu humilde silêncio levado por um abraço virtual que espero, a ela chegue carregado de carinho porque também sou mãe.
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