sexta-feira, 30 de março de 2012

A MINHA INFÂNCIA



Não sei porquê mas agora que atingi quase meio século de vida, as memórias da infância preenchem o meu dia a dia com uma saudade imensa de uma época da vida, que eu achava infeliz quando a vivi e hoje percebo que foi sem dúvida a fase mais linda da minha vida.

Tenho saudades da minha meninice. Daquele tempo de inocência em que a palavra "problema" só surgia nos trabalhos de escola. Mas eu lamentava-me... por não ter irmãos com quem brincar, por não poder ter um cão para cuidar, por não ter ninguém a quem chamar tio ou primos, por ser discriminada na escola por ter um nome português, por ter os olhos rasgados... Mas sem dar por isso cresci feliz! 

Adorava a escola e era excelente aluna. Compensava assim o "bullying" que sofri. Sempre que havia teatro a professora seleccionava-me o que me aterrorizava. Mas uma vez no palco a timidez desaparecia e soltava-me encarnado os papeis com entusiasmo. Lembro-me das palmas, muitas palmas... Da satisfação do dever cumprido com distinção. 

Também não consegui passar despercebida no desporto e foram muitos os campeonatos de atletismo inter-escolares em que participei. Lembro-me do medo, muito medo em não conseguir. Os gritos em surdina de uma escola inteira a torcer por mim e calorosos abraços por um honroso terceiro lugar!

Brincava muito na rua coisa que já não se vê nas crianças de hoje. Não tinha playstation, não tinha computador mas brincava muito até o dia ser noite... Não me faltava imaginação para brincar fosse com amigos fosse sozinha. Se havia neve, fazia-se escorregadas por todo o lado, patinava-se nos quintais, construía-se bonecos. Se era verão, brincava-se com a mangueira, jogava-se ao elástico, badmigton ou bola! Se chovia ficava-se em casa a inventar cenários: um dia era "professora", noutro com o cano do aspirador na mão, era cantora, noutro a "mulher biónica" da série de televisão que não perdia...  A televisão era só de manhã para ver os desenhos animados...  Não havia  MEO com centenas de canais mas mesmo que houvesse, na minha infância tudo o que queríamos era brincar, correr, saltar... Por isso, não se falava em obesidade infantil, não havia crianças em terapias com psicólogos...  Éramos saudáveis  e isso via-se nas fotos de turma que ainda guardo com carinho. Não haviam miúdos obesos... 

Valorizava-se tudo o que nos rodeava: a natureza, os bichos... as pequenas coisas da vida. Não precisava-mos de muito porque muito não tínhamos. Mas éramos sem dúvida muito felizes...






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