Fui obrigada a crescer depressa e provavelmente por isso a palavra rebelde foi o que melhor me definiu nesta fase... De menina, com 5 anos apenas, já tomava conta sozinha de mim: levantar, ir para a escola, regressar a casa... tudo antes de a minha mãe chegar a casa por volta da meia noite. Era assim todos os dias. Via-a apenas na hora de almoço na cantina da escola onde ela trabalhava... Responsabilidades foi uma palavra que tive cedinho de assumir...
Cheguei à adolescência com vontade de me libertar, de fazer coisas... Queria entrar para o coro da igreja, mas não me deixaram. Queria entrar para a natação, mas não me deixaram. Queria divertir-me com minhas amigas em discotecas, mas não me deixaram. Queria ir a um simples café para conviver com amigos, mas não me deixaram... Não valia a pena perguntar porquê. Era não, porque não. Mas havia uma coisa para a qual eu estava autorizada: namorar mas... ao portão de casa! À velha moda antiga do tempo dos meus avós... Experimentei mas o tédio era tanto que passei a ficar em casa aos domingos a ver televisão para espanto da minha mãe que achava que isso era sinal de doença...
Fazer tudo ás escondidas foi a solução encontrada. Experimentei tudo: sair à noite com os pais a dormir, ir às discotecas mais "off" escondida no banco traseiro do carro dos amigos, ir para o café em vez de ir para as aulas...
Quando mais uma noite regressava, depois de uma noitada, ao meu quarto silenciosamente, vi meu pai na penumbra sentado na cama à minha espera. Percebi naquele momento que tudo mudaria a partir dali. Naquele tempo não era permitido a uma menina de boas famílias um escândalo daqueles. Tive de prometer que casaria com ele, o responsável pelas minhas ausências nocturnas. E na minha inocência, ao mesmo tempo que punha um ponto final numa adolescência que apenas começara, um alívio invadia-me pensando que assim nasceriam asas para voar para uma liberdade que me faltava...
Não demorou muito para a vida me ensinar que a liberdade não se conquista assim...
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