quarta-feira, 18 de abril de 2012

O DIVÓRCIO


 

Ninguém casa para se divorciar um dia. Pelo menos, não se pensa nisso. Fazemo-lo   acreditando que é para a vida toda... até que a morte nos separe...  A minha história não foi diferente de tantas outras: ainda menina com 17 anos apenas, apaixonei-me pelo homem mais velho, com sentido humor e sedutor. Por outro lado, uma educação severa e muito controladora tinha despertado em mim uma vontade quase asfixiante de me libertar da "ditadura dos pais" e voar sozinha... Foi assim, que aos 17 anos, na presença de um notário por ser menor, meus pais autorizaram o casamento.

Com aquela idade vivia ainda os contos de fadas e acreditava cegamente no amor eterno e nos casamentos de princesa. E tive um... Comprei o vestido branco, o bouquê de orquídeas e flores de laranjeira, a igreja decorada com centenas de flores, um coro para a marcha nupcial, o copo de água no local mais "in" da época com mais de 300 convidados, um album de fotografias com o mais conceituado fotógrafo da minha cidade com 100 fotografias ...  

Era suposto ser o início de uma linda história de amor... mas a caminho da lua de mel reparei na expressão grave que meu ainda "fresco" marido tinha no rosto. Não tinha idade para compreender nada. Chegados ao hotel onde passaríamos a nossa primeira noite de núpcias deparamo-nos com um quarto com duas camas e percebi que ele, na reserva, não tinha mencionado que éramos casal... Ele não mostrou qualquer desagrado e com ar muito natural começou a arrumar as malas. Era o prenúncio do que estava para vir...

A lua de mel estava prevista durar 15 dias mas ao fim de 11, ele sugere que venhamos embora por já estar aborrecido... 

Compreendi com o passar dos anos, e foram seis, que há pessoas que conseguem casar sem amor algum, apenas por interesses... no meu caso, financeiros.  Mas foi preciso, já grávida de sete meses da minha primogénita, vê-lo com outra mulher na penumbra do carro para começar a interiorizar que o melhor seria seguir outro caminho.

A decisão não veio logo. A maternidade trouxe-me problemas de consciência que tive de superar. A coragem veio e sem reflectir demasiado tomei a decisão que mudaria para sempre o rumo da minha vida: pedi o divórcio.

Ficaram para trás seis anos de desprezo, de gritarias, de violência psicológica, de ausência total de diálogos, de amor... Foi assim a minha vida de casada. 

Já lá vão 28 anos...


 

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