Estava deprimida. E por muito que ela insistisse, minha amiga não conseguia demover-me da minha intenção de não ir ao festival de Paredes de Coura. Seria até uma experiência única pois nunca soubera o que isso era nem tão pouco tinha experimentado algo parecido apesar de já contar com 35 anos de vida. Mas estava decidida a não ir. Os problemas que me consumiam apenas me motivavam a enterrar-me na minha cama a ver televisão e comer até não poder mais! Estava assim. Sem vontade para nada! Mas ela tanto, tanto insistiu que acabei por anuir só para lhe fazer a vontade e calá-la de uma vez. De certo modo, entendia o seu desespero em querer animar-me a todo o custo. Era amiga e as amigas fazem tudo para nos verem felizes.
Quando entramos no café e nos juntamos ao grupo de seguranças do festival ao qual pertencia o namorado da minha amiga, vi-o por entre os outros. Calado, com os óculos posicionados ao contrário, por trás da nuca, participava na conversa pontualmente mas com muito humor sem deixar o ar sério que carregava. Percebia-se a empatia que tinham por ele e eu, discretamente observava-o tentando descobrir o que nele não era ainda visível. Um jantar nessa mesma noite alterou para sempre o percurso de uma vida...
Fulminada por uma atracção sem igual, deixei-me levar pela magia desta experiência ao lado de alguém que parecia ter surgido de outro planeta. Consciente que os contos de fada não existiam, embriaguei-me por este príncipe sem cavalo branco que me fazia levantar os pés do chão sempre que me beijava. Era surreal de tão perfeito que me parecia. Um cavalheiro à moda antiga que abre a porta à sua donzela; que puxa a cadeira para ela se sentar; que interrompe os outros para a deixar falar; que lhe escreve poemas em qualquer lugar; que lhe prepara o melhor repasto que se possa imaginar. Um príncipe de sorriso largo e gargalhada sonora, cheio de humor e alegria de viver. Um louco divertido que tornava cada dia mais hilariante que o outro. Um companheiro sensível incapaz de suportar uma lágrima minha. Um sonhador que idealizava concretizar todos os meus desejos só para me ver feliz. Um sonho de homem!
Mas a vida, ah! essa malvada, tinha de se meter neste conto tão belo e afogá-lo em problemas e dificuldades. Acrescentar doenças e atrocidades. Tinha de vir com suas rotinas e desencontros e transformá-lo em conto de falhas...
Aprendi que os contos de fadas começam sempre bem e aquela parte do "...e viveram felizes para sempre..." é porque somente nos é contada a primeira parte da história e nunca o fim. Todos vivemos contos de encantar quando conhecemos alguém. Todos amamos intensamente aquele que escolhemos para a vida. O resto já não depende só dos protagonistas. Depende da vida.
Será o amor e apenas este que determinará se continuaremos a viver aquela história ou não. Se é de facto uma história com falhas num conto de... fadas que vale a pena ter. Porque um grande amor não se vive no glamour e purpurinas. Vive-se no pó do deserto com a convicção que é o melhor e único lugar no mundo onde queremos estar.
Aprendi que os contos de fadas começam sempre bem e aquela parte do "...e viveram felizes para sempre..." é porque somente nos é contada a primeira parte da história e nunca o fim. Todos vivemos contos de encantar quando conhecemos alguém. Todos amamos intensamente aquele que escolhemos para a vida. O resto já não depende só dos protagonistas. Depende da vida.
Será o amor e apenas este que determinará se continuaremos a viver aquela história ou não. Se é de facto uma história com falhas num conto de... fadas que vale a pena ter. Porque um grande amor não se vive no glamour e purpurinas. Vive-se no pó do deserto com a convicção que é o melhor e único lugar no mundo onde queremos estar.