terça-feira, 6 de maio de 2014

O MEU NOME É GISELLE SILVA


Podia ter sido só mais uma notícia sensacionalista como tantas outras naquela estação televisiva. Mas o tema prendeu minha atenção. Aquele tema tão familiar fez-me estremecer de curiosidade. Queria saber que destino iria tomar aquela menina. Aquela  que o tribunal determinou que iria viver junto da mãe. A jornalista alertava para as imagens chocantes. E eu congelo ali de olhos fixos a tentar adivinhar o que se seguia. 

Giselle é filha de um português e mãe irlandesa. Apanhada pelo turbilhão das desavenças dos pais pela luta da custódia, a menina tem um desejo que manifesta categoricamente junto da juíza: ficar com o pai. Durante todo o processo é-lhe feita uma avaliação psicológica que determina uma maturidade acima da média para a idade que conta já com 9 aninhos. Deixa vídeos a manifestar o seu desejo. Desenhos, escritos... Tudo aquilo a que ela se pude agarrar para convencer os adultos que a julgam de que não tinha dúvidas. Mas Giselle não tem voz. Não tem vontades. Não tem sequer direitos neste país de cegos e imbecis que mais uma vez avaliam de forma brejeira a vida de um ser. E debaixo de um mandato judicial pai e filha são obrigados a despedirem-se, quiçá para sempre, porque esta parte só a mãe o ditará. É então que no aeroporto, à porta do embarque para a Irlanda, que se ouvem os choros da menina agarrada ao pai em desespero, pedindo-lhe que não a deixe ir. Um nó gigantesco aperta-me a garganta. Não aguento. As lágrimas apoderam-se de mim e lavam-me o rosto enquanto oiço os polícias a avisarem que se ela não fosse teria de ser levada à força!

Há crueldade maior que esta? Que humanidade tem esta juíza ao decretar tal sentença? Que emoções terá ao ver estas imagens como eu? São perguntas que eu gostava de ter oportunidade de lhe fazer... Porque em tempos, eu tive uma menina que viveu uma história idêntica...

A minha filha era demasiado pequena quando eu a perdi para o pai. E demasiado pequena também para dizer com quem queria ficar. Por isso, quando recebi a sentença, apesar de ter recorrido, conformei-me com a decisão. Até porque não tinha qualquer indicação de que ela não era feliz. E quando assim é, cabe-nos a nós que amamos os nossos filhos, deixá-los onde se sentem bem. Mas aos 10 anos ela revela-me a sua infelicidade, ocultada durante imenso tempo. Não hesitei e com armas e bagagens ambas iniciamos uma longa luta para retirá-la dali. Quis o destino que o caso fosse parar às mãos de uma juíza que não descurou uma única prova apensa ao processo. Cartas, desenhos, testes de avaliação psicológica, testemunhos da criança!  Mas sobretudo o mais importante: a vontade da minha filha! 

A Giselle e outras crianças como ela (lembram-se daquela menina de Braga que teve de voltar para mãe biológica, à força na Rússia?)  não tiveram a mesma sorte de verem respeitada um direito tão simples como o direito de escolha. E por isso ficarão com marcas para o resto da vida. Dizem eles, os juízes, que tudo isto é pelo superior interesse da criança... A sério? 

Se estas decisões são para as defender, não quero sequer imaginar o que fariam para as castigar...    

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