segunda-feira, 29 de setembro de 2014

VIVER 100 ANOS




A maioria das pessoas tem medo de envelhecer. Eu, tenho medo de perder a minha saúde...ao envelhecer. Sempre tive consciência que o pior da vida era terminar  sem lucidez, sem capacidades motoras, carregada de doenças de todo o género e quando vejo senhoras que completam 100 anos de vida cheias de vigor e saúde, sinto uma inveja enorme por não saber se terei um dia tamanha benção! 

Num pastel de nata três velas com os respectivos algarismos que não deixavam dúvidas: 100 anos!, apesar de uma jovialidade que lhe dava apenas 70! Divertida, aluna da Universidade Sénior, completamente autónoma e a viver sozinha, explicava que talvez o segredo da sua longevidade fosse o rir  muito e que o único problema em viver tanto era ser sempre a mais velha em todos os sítios que entrava. A transbordar de humor, esta senhora é tudo o que eu um dia desejava ser. Sem peles esticadas, sem tintas no cabelo, completamente de acordo com a idade mas linda muito linda, por fora e por dentro. É impossível ficar-lhe indiferente de tanto que sorri como se a vida secular que transporta tivesse sido palaciana. Mas não. Foi sofrida, foi penosa, foi desafiante, foi emotiva como tantas outras vidas. Mas aqui não há lugar a lamentos. Agradece-se tudo o que se tem e não se pede mais do que isso. 

O segredo da longevidade não está apenas no que comemos como agora tanto se fala. O segredo está sobretudo na forma como encaramos a vida e a vivemos. E não  tenho dúvida alguma que aquilo que mais acrescenta dias à nossa curta passagem terrena,  é o positivismo com que acordamos todos os dias para os desafios da nossa jornada por cá. Gente que encara a vida com um sorriso, que vive feliz com o que tem,  acrescenta dias aos dias que já tem. Liberta endorfina, analgésicos naturais que os inibem da dor, serotonina responsável pela sensação de prazer que fortalece o seu sistema imunitário. O sorriso combate a depressão e o stress, diminui a pressão arterial, melhora a digestão e até deixa a pele mais bonita. 

Por isso, não é de espantar que pessoas com esta natureza vivam mais e mais bem conservadas que as outras. Porque se tudo se justificasse apenas pelo que comemos, não teríamos vegetarianas como Brigitte Bardot com aspecto horrível aos 80, nem esta senhora assumidamente omnívora tão bela e saudável aos... 100.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

AMOR ELECTRÓNICO

Chamem-me antiquada que eu não me importo. Mas para mim, as melhores relações são construídas à moda antiga. Olho no olho, mão na mão com conversas longas a perderem-se no tempo. Olhos que namoram a boca que fala, apreciando-lhe todas as curvas com prazer, que debitam palavras e mais palavras sobre assuntos mais íntimos ou triviais, e que intensificam os laços entre os interlocutores. 

Por isso não entendo como podem estes novos amores sentarem-se lado a lado, de telemóvel na mão, teclando cada um para seu lado, completamente embrenhados naquele dispositivo, esquecendo por completo que estão ali, acompanhados um do outro. Não se tocam. Não se falam. Desligam-se momentaneamente apenas para engolirem à pressa a bica que entretanto chegou à mesa...  E retomam as suas conversas secretas num mundo virtual que os leva para bem longe dali.

Enquanto desfruto da minha leitura matinal sempre acompanhada de um cafézinho gostoso, observo em meu redor os amores electrónicos que povoam a sala. Um quadro deprimente onde famílias, casais e até grupo de amigos se agarram àqueles dispositivos como se tivessem íman e fosse impossível largá-los por uns minutos! Uma obsessão quase doentia que destrói uma das coisas mais belas da vida: as relações pessoais.

As novas tecnologias são de facto um invento maravilhoso quando utilizadas de forma correcta e disciplinada. Quando isso não acontecesse, as pessoas tornam-se escravas e sem darem por isso, caminham distantes e vazias. É a estupidificação em massa de gente que já não sabe viver sem fazer uma actualização ao perfil na rede social, sem espreitar a toda à hora o que por lá se passa e que fica mais doente por não se conseguir conectar com a rede do que com a ausência das pessoas que com eles privam.

Assisto a tudo isto com alguma nostalgia dos tempos em que sem telemóveis e muito menos androides, nos entregávamos ás longas conversas pela madrugada fora, onde a única coisa que nos interrompia  eram as horas tardias e o ter de levantar para trabalhar no dia seguinte. Tempos de amores mais genuínos, onde os afectos eram mais intensos, e a relações muito mais próximas.  


quarta-feira, 3 de setembro de 2014

DIÁRIO DE UMA MEMÓRIA PERDIDA - VOLTA!





Perdi-te. Nem me lembro mais quando... Partiste sem aviso e deixaste-me aqui sozinha com este teu corpo gasto pela idade mas ainda com tanto vigor. Podias ter deixado a tua nova morada, podias pelo menos dizer onde te posso encontrar, mas não. Partiste sem dizer para onde ias nem quando voltavas. E eu aqui sozinha à tua espera... 

Procuro-te no teu olhar e quantas vezes te vi, mesmo ali, para desapareceres repentinamente, outra vez como se fugisses de alguém, voltando para o teu mundo onde ninguém entra. Só tu. Tenho raiva do teu corpo que te aprisiona como uma fortaleza intransponível e que nos separa daquilo que fomos um para o outro. Se ao menos tivesse uma chave para te abrir e me juntar a ti sempre que para lá fosses. Mas não tenho nada, mesmo nada para te poder alcançar.  Resigno-me a esperar aqui para que voltes por breves minutos ou segundos que eu absorvo sedente de ti. 

Deixaste um vazio tão grande, sabias? Era suposto partires velhinho, muito velhinho como todos os velhinhos vão. Mas foste embora tão cedo e  com tantos momentos ainda para partilharmos, tantos risos, tantos choros, tantas conversas, tantas histórias... Tantas coisas pai, que ficaram por fazer... por dizer... Como vou eu preencher este vazio imenso que deixaste nas nossas vidas?

A culpa é tua que te lembraste de repente fingir que estavas a melhorar correndo a casa toda, sorrindo como nunca, falando quase consciente... Fazes acreditar que estás de volta. Que regressas pouco a pouco a casa. Mas eu sei que não passa de uma brincadeira do destino, não é? Foste para não mais voltar.

Mas diz a quem te segura aí,  que precisas de regressar. Que tens filha e neta para cuidar. Que deixaste muito por fazer, muitas lutas por amparar. Que eras a essência de duas vidas que sem ti viverão amputadas... Diz-lhes que não sabemos existir sem ti... Diz-lhes tudo o que quiseres... Mas volta pai...