quarta-feira, 3 de setembro de 2014

DIÁRIO DE UMA MEMÓRIA PERDIDA - VOLTA!





Perdi-te. Nem me lembro mais quando... Partiste sem aviso e deixaste-me aqui sozinha com este teu corpo gasto pela idade mas ainda com tanto vigor. Podias ter deixado a tua nova morada, podias pelo menos dizer onde te posso encontrar, mas não. Partiste sem dizer para onde ias nem quando voltavas. E eu aqui sozinha à tua espera... 

Procuro-te no teu olhar e quantas vezes te vi, mesmo ali, para desapareceres repentinamente, outra vez como se fugisses de alguém, voltando para o teu mundo onde ninguém entra. Só tu. Tenho raiva do teu corpo que te aprisiona como uma fortaleza intransponível e que nos separa daquilo que fomos um para o outro. Se ao menos tivesse uma chave para te abrir e me juntar a ti sempre que para lá fosses. Mas não tenho nada, mesmo nada para te poder alcançar.  Resigno-me a esperar aqui para que voltes por breves minutos ou segundos que eu absorvo sedente de ti. 

Deixaste um vazio tão grande, sabias? Era suposto partires velhinho, muito velhinho como todos os velhinhos vão. Mas foste embora tão cedo e  com tantos momentos ainda para partilharmos, tantos risos, tantos choros, tantas conversas, tantas histórias... Tantas coisas pai, que ficaram por fazer... por dizer... Como vou eu preencher este vazio imenso que deixaste nas nossas vidas?

A culpa é tua que te lembraste de repente fingir que estavas a melhorar correndo a casa toda, sorrindo como nunca, falando quase consciente... Fazes acreditar que estás de volta. Que regressas pouco a pouco a casa. Mas eu sei que não passa de uma brincadeira do destino, não é? Foste para não mais voltar.

Mas diz a quem te segura aí,  que precisas de regressar. Que tens filha e neta para cuidar. Que deixaste muito por fazer, muitas lutas por amparar. Que eras a essência de duas vidas que sem ti viverão amputadas... Diz-lhes que não sabemos existir sem ti... Diz-lhes tudo o que quiseres... Mas volta pai...    


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