Há pessoas que não largam as igrejas fazendo delas as suas segundas casas; que se auto-promovem como seres divinais que transbordam de bondade e altruísmo. No entanto, na hora da verdade, não passam de seres ocos e falsos que gastam apenas energias em dissimular aquilo que realmente são para venderem uma imagem que não existe de si mesmos. Não faltarão a um grande evento de solidariedade amplamente divulgado e onde serão notados na sua pressuposta bondade, mas faltarão onde serão precisos mas ninguém os vê, não tendo louros para colher.
Existem uns magníficos assim na família do meu pai. Souberam, há muitos anos que o meu pai padecia de uma doença irreversível. Souberam também que, já não podia, pelos seus próprios meios, usufruir das suas companhias, mas ignoraram-no. Fizeram de conta até ao dia de hoje, que ele simplesmente não existia. E nas suas vidas cinzentas e enfadonhas continuaram nos seus mundos alheios a tudo que se passava com o irmão mais velho. Alheios, ponto e vírgula! Não o visitam mas são leitores assíduos da minha crónica sobre a demência dele... Não deixa de ser curioso... de facto. Espiar o que se vai passando do lado de cá, interessa. Dar-lhe um beijo, um carinho, um abraço, não!
Porém tenho a certeza, que estas criaturas não vão poupar dinheiro a depositarem flores na sua cova. Não vão poupar lágrimas na sua despedida. Todos trajados a rigor aparecerão para a fotografia social porque impera mostrar aos outros a família magnífica que são. Entretanto, lá estarei eu, no grande evento, sedenta de os desmascarar a todos. De lhes arrancar das faces essa máscara cravada em seus rostos de tanto que dela fizeram uso. Pouco me importará se é a casa de Deus porque Deus, se existe, está com certeza do lado dos justos. E justiça é varrer os vermes dos lugares sagrados por não se redimirem e pedirem perdão a quem por eles tudo fez e nada, mas nada mesmo, recebeu.
Quem é que quer flores depois de morto? Visitas à sua morada final? Ninguém. O que se leva desta curta passagem são as memórias. E quem não as procura dar em vida, que tenha pelo menos a dignidade de faltar na despedida.
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