O mês de Agosto é por excelência o período escolhido para se tirar férias. E por isso transborda de turistas ávidos de sol e boa comida portuguesa e emigrantes saudosos da sua gente. O problema é o espaço, e como Portugal não "estica", e os cerca de 92 000 m2 encolhem com essa imensidão de veraneantes que o inunda, eis que nós, residentes, nos vemos de um momento para o outro, espalmados em tudo quanto é sítio. E eu que gosto de espaço e calmaria, não escondo o meu nervosismo.
Cafés a abarrotar e se por alguma sorte tiver uma mesita vazia, o barulho de quem conversa aos berros é ensurdecedor. Ler o jornal pela manhã ao mesmo tempo que se contempla a praia e se toma um cafézinho gostoso é missão impossível em Agosto. Uma simples ida ao supermercado é uma aventura cheia de desafios. O primeiro é ter onde estacionar. O mais provável será andar às voltas durante cinco ou 10 minutos e mesmo assim correr o risco de não ter vaga... Depois de ultrapassada esta etapa, lá dentro terá filas intermináveis à nossa espera: filas para o pão, filas para a peixaria, filas para o talho... E mesmo que com alguma destreza consigamos evitá-las comprando produtos já embalados nas prateleiras, eis que seremos surpreendidos pelos carrinhos de compras infindáveis, estacionados por todo o lado, bloqueando tudo quanto é via, tornando o cruzamento quase impossível. Sem falar é claro, daqueles que em fila dupla ou tripla, aproveitam para parar e falarem em grupo entupindo as passagens enquanto colocam o historial das suas vidas em dia, falando das "vacances", das saudades, e das suas vidas de emigrantes. Quem sobrevive a esta aventura tem depois de obviamente dirigir-se ao caixa para pagar... Outra vez filas e mais filas, lá escolhemos uma à sorte rezando para que seja célere. E passados quase vinte minutos só para pagar, com uma neurose aguda à flor da pele, saber que em Setembro tudo volta ao normal, conforta-nos...
Circular na estrada nesta época, também não é para amadores. O mais certo é deparar-mo-nos a cada quilómetro percorrido com um automobilista a "desfilar" em passo lento a sua viatura topo de gama, saída da garagem exclusivamente para as férias em Agosto, a travar ainda amiudamente para apreciar as paisagens ou as garinas que passam. Sem falar é claro, daqueles que, procurando algum destaque, "olha para mim que tenho uma "bomba" e trabalho na Suiça", como se isso lhes desse direitos acrescidos sobre os residentes, enervam-se todos ao volante por "acharem" que uma rotundo se faz totalmente pela direita e nos insultam porque ao contrário deles, sabemos o código da estrada.
Também não menos irritante esta mania de alguns emigrantes viverem ao contrário: se estão na França, carregam-se de símbolos portugueses e ostentam-no de forma quase obsessiva. Se vêm para Portugal querem a todo custo que saibamos que são "franceses", deixando de lado a língua mãe e carregando nos "erres" com força não vá a gente distrair-se e não perceber que eles são estrangeiras em terras portugueses.
Não pensem que não gosto dos turistas. Gosto e muito mais dos nossos emigrantes de quem admiro a coragem de fazer vida, às vezes bem dura, lá fora. Apenas gosto de tranquilidade e confusão de gente, só aprecio em zonas controladas que procuro ou não, consoante a minha disposição. No meu dia-a-dia , gosto mesmo é de sossego, que desaparece assim que vem o meu querido mês de Agosto.
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