segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

DIÁRIO DE UMA MEMÓRIA PERDIDA - O "BICICLETA"


Certo dia, o meu avô, sabendo que tinha levado a bicicleta do meu pai quando este imigrara, resolveu há uns anos, dar-lhe a sua. Agradecido, e apesar de já não precisar de nenhuma, meu pai informou que um dia lá passaria para a buscar. O irmão do meio, já grandemente conhecedor dos temperamentos que inundavam do outro lado da família, bem o alertou para que  fosse o quanto antes. Mas meu pai desdramatizou respondendo que seria muito absurdo alguém se interessar por uma bicicleta que lhe tinha sido justamente oferecida... Mas enganou-se. A irmã mais velha, assim que soube da oferta, insurgiu-se veemente junto do pai demonstrando todo o desagrado por esta decisão! Afinal, se o meu avô tinha uma bicicleta porque razão teria ela de ir parar às mãos do meu pai e não ás dela? O facto tornou-se ainda mais caricato quando meu pai decidiu finalmente ir buscá-la. Quando lá chegou, já a irmã a tinha levado...

O caso passou a ser motivo de risota e divertidos, meu pai e meu tio acabaram por lhes por carinhosamente a alcunha de "os bicicleta". 

Resolvi contar esta história porque ela revela tudo aquilo que eu tenho vindo a dizer em relação à hipocrisia instalada dentro da família paterna. Na verdade todos se debatem em afirmar que não são a origem dos conflitos. Que são boas pessoas. Que amam o meu pai profundamente. Mas assim que contamos pequenos trechos passados percebemos a mesquinhez das palavras. Os "bicicleta" não protagonizaram só este episódio. Há uns anos, já no período da doença do meu pai, eles fizeram vista grossa assim que avistaram meus pais num restaurante. Minha mãe fazendo ver que tinha percebido o gesto, levantou-se e foi cumprimentá-los à força mostrando que não valia a pena tentar ignorá-los. Apanhados de surpresa, foram cordiais e acabaram por os convidar a passar na sua casa. Pois é. O convite foi feito e até caiu bem. O problema foi abrirem a porta. A minha mãe à hora combinada estava lá. Tocou diversas vezes à campainha. Ninguém atendeu. O vizinho, no intuito de ajudar, informa meus pais que eles acabavam de entrar há minutos, logo estariam em casa de certeza. Perante tal afirmação, minha mãe incrédula, desce o caminho querendo confirmar a todo o custo que ele se tinha enganado. Mas depressa avistou a traseira do carro estacionado na garagem... 

E depressa também, percebeu que tinha sido enganada...  





   


Sem comentários:

Enviar um comentário