Não compreendo como tudo aconteceu. E por muito que tente arranjar razões para entender este ódio por ele, continuo sem entender...
Ele era e sempre foi o mais engraçado de todos os irmãos. Divertido, sempre dado à brincadeira, onde quer que ele estivesse era diversão garantida. Amigo de todos, compadecia-se com as necessidades dos outros sempre pronto a ajudar num altruísmo constante. Não era preciso pedir-lhe nada. Ele antecipava-se. Tal como certo dia, reunira todos os irmãos para lhes comunicar que queria adquirir um tractor para oferecer aos pais e assim retirar minha avó da vida dura frente aos bois. Quisera saber se podia contar com o apoio financeiro dos irmãos para a nova aquisição. Mas contrariamente ao que esperava, nenhum se dispôs a contribuir... Mesmo sozinho, a sua vontade superou a falta de dinheiro e contraindo um empréstimo bancário, acabou por oferecer o tractor ao seu pai. Mais tarde, ofereceu à sua irmã uma máquina de costura apenas porque soubera que esta lhe fazia falta...
Amigo do seu amigo, trava qualquer batalha em defesa de quem ama resulte dela o que resultar. Não se importa de dar a roupa que veste por alguém que precise. Basta que saiba que precisam dele que ele salta donde estiver para acudir. É leal e não admite traições. Muito franco e directo, não poupa palavras ao dizer o que sente, olhos nos olhos. E terá sido isso mesmo a isolá-lo dos outros...
Quando tudo começou não sei. Mas sei que tudo piorou quando, anos depois de ter oferecido o tractor aos pais, meu avô decide devolver-lho alegando já não precisar dele porque iria deixar a lavoura. De imediato, fez-lhe uma vistoria que lhe custou 700 contos e guardou-o na garagem. Ele sabia que enquanto o mesmo esteve na posse do pai, outros irmãos lá iam servir-se dele. Não gostava. E demonstrou-o diversas vezes. Afinal, que direito tinham eles a utilizá-lo sem que tivessem contribuído para ajudar na aquisição? Com que moral deixavam depois as manutenções para fazer a cargo do pai ou dele? O mal estar era visível. Porém certo dia, uma das irmãs ousou ir buscá-lo sem autorização. Ao insurgir-se contra esse total desrespeito, a irmã simplesmente retalia dizendo que haveria de, com isso, envenenar definitivamente o pai contra ele... e conseguiu.
Seguiu-se o momento dos cuidados à minha avó que com saúde debilitada teria de ter apoio permanente em casa. Ele deixou os irmãos completamente à vontade na escolha dos meses que seriam atribuídos a cada um e mostrou-se totalmente disponível para ajudar no que fosse. Mas assim que souberam que ele pretendia recorrer ao apoio domiciliário da paróquia, as vozes do protesto não se fizeram esperar. As donas da moralidade e bons costumes da família logo se impuseram dizendo não aceitar que minha avó recebesse a "sopa dos pobres" em casa. Na verdade, e porque não acredito numa ignorância tamanha, o que elas não queriam, isso sim, é que ele poupasse minha tia dos cuidados a que elas se sentiam obrigadas. Mas ele é e sempre foi tão diferente do resto do Mundo e por isso, sabia que a esposa não tinha de se sacrificar pelos sogros. A obrigação era dele. Além disso, o apoio domiciliário através da igreja é duplamente com pensador: por um lado o dinheiro pago pelo serviço vai ajudar ao apoio de outros necessitados, por outro recebe-se em casa o apoio profissional de excelência feito por gente dedicada que acaba por estabelecer laços afectivos com o doente debaixo da supervisão dos filhos. Não há dúvida que para quem tem dinheiro, esta é a melhor opção. Criei uma empresa neste sector e não me lembro de nenhum "pobre" ter acesso a ele. Infelizmente, a não ser pelas Misericórdias, este serviço é para elites, pessoas bem colocadas na vida...
Depois veio o apoio dado ao meu pai quando uma irmã e meu avô decidiram resolver as inundações de água numa propriedade por ela herdada partindo o muro da propriedade do meu pai... para fazer o escoamento. Esta lealdade custou-lhe dissabores com que ele nunca se importara. Afinal, tratava-se de uma provocação ao irmão que tudo fizera pela família. As cartas provocatórias e difamatórias não se fizeram esperar e a guerra instalou-se. Afinal, se ela tinha água no terreno porque razão não a deixavam mandá-la para propriedade vizinha, se até o próprio pai estava de acordo e as propriedades, antes de herdadas eram dele?! Foi o tribunal que resolveu este assunto a favor do meu pai, claro. Mas para o meu tio, continuou... Sabendo que ele tinha feito um escoamento subterrâneo para canalizar a água de sua casa e que passava por baixo do seu terreno, minha tia idealizou "utilizá-los" para seu benefício, sem autorização do seu proprietário. A retaliação não se fez esperar, e com a lei do lado dele, avançou sem rodeios para... o tribunal. Enquanto isso, os restantes irmãos apoiam a irmã nesta condenação à inevitável indemnização ao invés de a chamar à razão explicando-lhe que as coisas não se resolvem à revelia e que isto só a prejudica... a ela! Alimentam-se batalhas gratuitas mesmo sem fundamento só pelo prazer de ver tudo a explodir. Porque o que importa é manter os diferendos, as distâncias entre eles. Assim é o conceito de amor e amizade por aquelas bandas...
Eu também tive os meus desencontros com este tio e desengane-se quem pensar que não tenho motivos para mágoas. Mas o que o distingue dos outros é sabermos os "porquês". Sabermos os motivos. Porque ele é genuíno, autêntico e não engana ninguém. E assim facilmente poderemos compreender, aceitar e até perdoar. E com isso confesso que o admiro pela sua transparência e franqueza com a qual me identifico e provavelmente terá sido essa qualidade que nunca me fez afastar dele. É que, uma coisa é sermos constantemente prejudicados por outros tios sem nunca lhes termos feito mal algum, outro é ser-se como este que não se coíbe de dizer o que o afectou com toda a objectividade possível e sem rodeios.
Que me perdoem os seus opositores mas eu gosto muito de pessoas assim. De pessoas francas, sem papas na língua, sinceras e leais. Pessoas que não enganam. Pessoas que não representam. E hoje não tenho dúvidas que o fosso que dividiu os irmãos, não foi mais nada senão esta indubitável diferença que fez dele o tio mal amado.
Depois veio o apoio dado ao meu pai quando uma irmã e meu avô decidiram resolver as inundações de água numa propriedade por ela herdada partindo o muro da propriedade do meu pai... para fazer o escoamento. Esta lealdade custou-lhe dissabores com que ele nunca se importara. Afinal, tratava-se de uma provocação ao irmão que tudo fizera pela família. As cartas provocatórias e difamatórias não se fizeram esperar e a guerra instalou-se. Afinal, se ela tinha água no terreno porque razão não a deixavam mandá-la para propriedade vizinha, se até o próprio pai estava de acordo e as propriedades, antes de herdadas eram dele?! Foi o tribunal que resolveu este assunto a favor do meu pai, claro. Mas para o meu tio, continuou... Sabendo que ele tinha feito um escoamento subterrâneo para canalizar a água de sua casa e que passava por baixo do seu terreno, minha tia idealizou "utilizá-los" para seu benefício, sem autorização do seu proprietário. A retaliação não se fez esperar, e com a lei do lado dele, avançou sem rodeios para... o tribunal. Enquanto isso, os restantes irmãos apoiam a irmã nesta condenação à inevitável indemnização ao invés de a chamar à razão explicando-lhe que as coisas não se resolvem à revelia e que isto só a prejudica... a ela! Alimentam-se batalhas gratuitas mesmo sem fundamento só pelo prazer de ver tudo a explodir. Porque o que importa é manter os diferendos, as distâncias entre eles. Assim é o conceito de amor e amizade por aquelas bandas...
Eu também tive os meus desencontros com este tio e desengane-se quem pensar que não tenho motivos para mágoas. Mas o que o distingue dos outros é sabermos os "porquês". Sabermos os motivos. Porque ele é genuíno, autêntico e não engana ninguém. E assim facilmente poderemos compreender, aceitar e até perdoar. E com isso confesso que o admiro pela sua transparência e franqueza com a qual me identifico e provavelmente terá sido essa qualidade que nunca me fez afastar dele. É que, uma coisa é sermos constantemente prejudicados por outros tios sem nunca lhes termos feito mal algum, outro é ser-se como este que não se coíbe de dizer o que o afectou com toda a objectividade possível e sem rodeios.
Que me perdoem os seus opositores mas eu gosto muito de pessoas assim. De pessoas francas, sem papas na língua, sinceras e leais. Pessoas que não enganam. Pessoas que não representam. E hoje não tenho dúvidas que o fosso que dividiu os irmãos, não foi mais nada senão esta indubitável diferença que fez dele o tio mal amado.
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