sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

O CASO DO DIOGO

O que aconteceu ao Diogo? Esta é a pergunta que permanece por responder 12 anos depois da sua morte. Numa noite como tantas outras, Diogo saiu de casa à noite alegando resolver a sua vida junto da Tuna de que fazia parte. Estava farto de ser praxado de forma estúpida e violenta mas nunca o confidenciou à mãe. Por isso, quando a notícia da tragédia chegou aos familiares, nunca suspeitaram que ele tinha sido morto. Foi um médico que corajosamente, ao ver o atestado de óbito, ordenou de imediato uma autópsia quando já decorria o enterro...

A mãe de Diogo, visivelmente abatida pelo sofrimento denunciava assim pela primeira vez e em televisão a luta que travou contra a universidade Lusíada. E apesar de coagida ao silêncio, enfrentou com coragem a Universidade do filho e ganhou. Mas ela quer mais. Quer ver os responsáveis a contarem como tudo se passou e porque ele morreu. 

Que há abusos nas praxes académicas e que algumas práticas são por vezes violentas, é um facto irrefutável. Não se trata de ser a favor ou contra às praxes. Trata-se de corrigir o que está mal, muito mal na actuação de algumas COPA. Trata-se de obrigar as Universidades a intervir e não a distanciar-se do problema como sempre o fazem assim que há uma queixa ou morte. Trata-se de definir uma vez por todas o que é uma praxe, como pode ser feita e sob que limites. Trata-se de criminalizar quem prevarica e quem não fiscaliza. Trata-se de sentar no banco dos réus os Duxes quer pelas suas actuações ou de seus colaboradores.  Em suma, trata-se de passar para decreto-lei o que até agora era mero estatuto das praxes. 

É imperioso ver os governantes legislar sobre isto e de forma célere. Não há indemnizações que compensem a perda de um filho. E contrariamente ao que foi dito, na lei actual não há quadro legal jurídico suficiente para tratar destes assuntos como eles merecem. Se houvesse, já muito se teria evitado. Uma legislação específica e rígida sobre esta matéria, desmotivaria muitas práticas excessivas. E as Universidades, ao serem também elas responsabilizadas a responder criminalmente, travariam rituais absurdos dentro ou fora das instalações.

A vontade começa na consciencialização. Enquanto continuarem a haver dirigentes e governantes a pensarem que nada se passa, que tudo é inocente, que apenas se tratam de "acidentes", que nada mais se pode fazer além do que já se faz, os nosso filhos correm perigo. A mim preocupa-me imenso saber que ainda tenho dois pequenos em casa que futuramente serão universitários. Preocupa-me que não saiba quem serão os COPA que lhes calharão na rifa se até lá nada for mudado. E como mãe serei obrigada a defendê-los sozinha começando por lhes ensinar já de pequenos a não ter medo de dizer NÃO;  ensinar-lhes a denunciar sem medo tudo o que for abusivo; abandonarem o local das praxes se algo anormal estiver a ocorrer; não aceitar praxes fora dos recintos universitários e sobretudo nunca se calarem sobre o quer que seja. Fazer deles pessoas fortes o suficiente para enfrentar quem quer que seja impondo a sua vontade de não serem praxados independentemente das consequências. Saberão que é melhor transferi-los de instituição a submeterem-se a práticas humilhantes ou perigosas. Saberão defender-se se mais ninguém lá estiver por eles. 

Eu não sou contra as praxes. Sou contra certas pessoas que possuem o direito a praticá-las sem escrúpulos sem respeito pela dignidade humana. E porque só à base de estatutos está mais que visto que não há segurança alguma, legislar sobre o assunto é para mim, a única via pela qual devemos todos nos debater para que possa haver "mão" pesada aos prevaricadores de pactos de silêncio atroz, no qual se escondem , para impedir a responsabilização tal como aconteceu ao Diogo.  




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