sexta-feira, 28 de março de 2014

APRENDER A SER FELIZ

Não há fórmulas para encontrar a felicidade nem caminhos que nos levam até lá. Ser feliz começa em nós e para pudermos vir a ser felizes é preciso primeiro aprendermos a nos amar. Sem amor próprio é impossível sentirmo-nos bem em qualquer parte tenhamos o que tivermos. A felicidade constrói-se e é necessário antes de tudo apaixonarmo-nos profundamente connosco estabelecendo uma relação embriagada pelo nosso "eu". Esse é o primeiro passo.  

Os média de hoje são culpados dos sentimentos de frustração que nos sufocam. Erroneamente dão ideia que ser feliz é ser-se Ronaldos ou Irinas. Que o dinheiro milionário é tudo e belezas perfeitas, também. É certo que viver sem dificuldades financeiras é um mal necessário e dele depende o nosso bem estar. Mas só na medida certa para suprir necessidades primárias. Se assim não fosse, não teríamos gente pobre feliz e gente rica infeliz. A realidade é que um bem só nos satisfaz por momentos até vir outro modelo mais sofisticado e destronar o primeiro. É um sentimento que não fica. Não perdura. Desvanece. 

Assim é, também,  com a beleza a que nos amarram todos os dias como se fosse imprescindível à vida. Estabelece-se um protótipo sem o qual, as excluídas,   mirram fechadas em casa, chorosas e infelizes convictas de que não há lugar para elas. Como se a felicidade dependesse de um palmo de cara ou rabo. O certo é que se fosse também esse o caminho, nenhuma beldade seria infeliz nem andaria desacompanhada...

Para sermos felizes, além de nos amarmos acima de tudo, temos de aprender a sonhar com o possível para conquistar o impossível. Dizia o sábio do meu pai que " Ninguém é feliz se sonhar ter a Torre Eiffel" e é bem verdade. As ambições desmedidas só trazem frustração. Pequenos passos fazem-nos chegar longe. O Bill Gates milionário é apenas a consequência de um Bill Gates trabalhador e empenhado numa pequena garagem que apenas queria fazer o que mais o realizava. Por isso, fazer o que amamos é o segundo passo, sem preocuparmo-nos com o resultado. 

Aprender a valorizar o que realmente interessa é outro passo importante. A vida, a família a saúde são bens muitos preciosos  donde devemos retirar todas as nossas energias positivas. Porque a felicidade não nasce na coisas palpáveis. São os afectos que nos unem ao mundo que nos rodeia, que transmitem uma fonte de sentimentos de que só nos apercebemos o quanto são vitais, assim que os perdemos. Não é por acaso que alguns indivíduos, assim que ficam sozinhos, morrem pouco tempo depois...

Finalmente, há que aprender a ser-se positivo para alcançar o bem estar que nos leva à felicidade. Aprender a ver os dois lados da vida retirando sempre o melhor do pior. Não permitir que o negativismo  tome conta do nosso dia a dia envenenando-o. 

Ser feliz é uma arte que nalguns é inata, noutros terá de ser adquirida. Seja como for, o importante é entendermos que ser feliz é um estado de alma e começa com uma grande paixão... por si.   



  

segunda-feira, 10 de março de 2014

PAIS MODERNOS

É comum hoje em dia os pais serem confrontados com este tipo de diálogos:
- Mãe quero um portátil!
- Ó filha, mas para quê se tu já tens um computador no quarto!
- Mas um portátil é mais fixe!
- Claro que sim, mas tu não tens idade para ter um, nem te faz falta e é caro!
- Pois mas as minhas colegas lá da escola têm... Algumas também têm tablet e eu não...

Quantas vezes depois não ficamos com a sensação de que damos pouco aos nossos filhos e até surge um sentimento de culpa por não podermos pô-los ao nível dos restantes colegas de escola?

Do tempo dos nossos pais para os dias de hoje, houve uma evolução gigantesca no nível de vida das pessoas o que evoluiu num consumismo desenfreado. A tecnologia por exemplo, evoluiu tanto que aparelhos como o telemóvel, acessíveis apenas aos mais abastados financeiramente, passaram a fazer parte do dia a dia de quase toda a população. Não é por isso de admirar que se tenha banalizado a aquisição de bens não essenciais que eram de uso exclusivo de adultos e passaram agora para mãos dos mais novos. Os pais modernos não querem que os filhos fiquem privados do  quer que seja,  entendem que a qualquer necessidade material, devem responder com um "sim" para que não experimentem a frustração que sentiram em crianças quando queriam um brinquedo e não lho davam. Por isso, quererão que os filhos tenham mais e melhor que os colegas porque assim sentem que lhes valorizarão o ego tornando-os poderosos junto dos colegas.

Quando eliminamos frustrações, retiramos todos e quaisquer obstáculos no caminho dos nossos filhos e deste modo,  estamos a contribuir para que no futuro não sejam capazes projectar uma vida sozinhos. Serão eternamente dependentes de terceiros para resolverem todas e quaisquer questões que surjam no seu caminho. E com alguma sorte, só conseguirão sair do conforto da casa dos pais aos 40!

Não ceder a tudo que os nossos filhotes nos pedem é um acto de amor. Estamos a construir pessoas que saberão o valor das coisas e o que custa adquirí-las. Criarão objectivos para obterem o que querem, poupando a mesada ou inscrevendo-se num part-time nas férias de verão.  Serão activos e com iniciativa. Saberão que para terem o tão ambicionado IPAD terão de lutar por ele.  E isso ensina-se logo de pequenino...

Preocupa-me o que estes pais modernos andam a fazer, não tanto por mim mas por uma geração que vão criar. Pessoas que frustrarão à primeira dificuldade porque tiveram tudo sem esforço quando debaixo da alçada dos pais; pessoas que mais facilmente roubarão para terem o que querem do que trabalhando e sacrificando-se por elas; pessoas eternamente insatisfeitas porque dependem das roupas de marca e tecnologias de ponta para serem felizes; pessoas vazias de valores completamente adictas ao consumo desenfreado como único objecto de vida.

Aos pais cabe dar aos filhos aquilo que não se vende nem se compra em lado algum por muito dinheiro que se tenha: educação! É o bem mais precioso que lhes deixamos de herança e que infelizmente já escasseia por entre os jovens. Ensinar-lhes a sobreviver nesta selva da vida e dar-lhes as "ferramentas" necessárias para que possam lutar,  evitará transformá-los em  eternos solteirões a viverem com os pais, incapazes de enfrentar o Mundo...

Dar educação não custa senão amor, dedicação e muita determinação. Daí não é preciso ser-se rico para dar o melhor aos filhos. Mas é preciso ser-se uma rica pessoa para sermos bons pais.

  
      


quarta-feira, 5 de março de 2014

DIÁRIO DE UMA MEMÓRIA PERDIDA - A CARTA DO MEU AVÔ

É impossível contar a vida do meu pai sem falar neste episódio. Esta carta, recebida no ano de 2006 alterou por completo o modo como passou a encarar a família e ele, já doente mas consciente ainda do que se passava, nunca mais foi o mesmo. A amargura que passou a carregar levou-o a enfrentar o tirano do meu avô como nunca o tinha feito até então! A carta começava assim:

"Ao amaldiçoado M.........

Grande amigo escrevo-te esta para te agradecer o teu bom procedimento, que não quero morrer sem o fazer. Tu tinhas-me dito que o animal do teu irmão, que se fosse a ter nota de bom comportamento era ele o melhor e mais bem comportado. Pois eu quero que tu fiques a saber que és tu o campeão, o maior cobarde que eu conheci na minha vida. Tu és o maior cobarde do Mundo, tu não és um homem és um bruto que não vale nada e teu irmão esse animal. Deus castigou-vos que sois vós o desprezo de toda a família. Cobardes! Querias vingar-te das tuas irmãs  por elas serem mais ricas! Ganharam-no elas e não eu que lho dei. Já pensaste que Deus castiga. Tinhas desprezo de ser cunhado do "Badolas" e ele hoje é melhor que tu e mais rico. Tem 3 moradas de casas e tu tens uma. Lá está Deus a castigar os maus. Deixaste a tua santa mãe morta e foste trabalhar para a grande fábrica. Valeu-te a pena. Trouxeste de lá as cuecas borradas e a D. Rosa a fralda suja. Cobardes que deixaste a vossa santa mãe e nem viestes rezar à noite com o padre. Vós estais no inferno mas não vai ser só. Esperai para o resto. Mas quero que vós todos vão levar no cu. Nunca precisei de vós nem preciso. Querias ser o mais rico e és a vergonha da minha família. Vós não tendes nada por dentro. Ide ao confesso e dizei a verdade e depois fazei o que o padre vos mandar que vós e a vossa família bruxedo. Que as igrejas para vós não tem valor e vós sois como os cães. Disseste-me que era preciso perdoar. Impostor! Quereis que vos perdoe vós cobardes que eu tinha nojo de vós, trabalhaste na França e no Canadá e na fábrica. Era pra estares rico mas foi tudo por água abaixo no resto ainda vais ver. Põe a cabeça dura."     

O meu avô reagira assim depois de meu pai decidir enfrentar a tirania dele. Pela primeira vez na sua vida decidira que nunca mais se deixaria rebaixar ou desautorizar por ele. E ele, à boa maneira de um ditador, contrariado, exprimia a sua raiva assim.

Obviamente que meu pai tinha consciência que ele estava a ser manipulado. As filhas, de quem meu avô dependia e por quem tinha preferência nos cuidados primários à esposa, maniatavam-no ao ponto de lhe exigir esta lealdade perante o facto de, a dado momento, ter decidido retirar-se da vida deles.

A carta apesar de tenebrosa, é reveladora. É um documento precioso que confirma tudo o que tenho vindo a contar e que os "magníficos" da família renegam. Carregada de malvadez e hipocrisia, ele vai relatando tudo aquilo em que passou a acreditar a partir de boatos infundados e que tanto quis que fossem reais.  Eu sabia que ele era o "divulgador" da tão badalada notícia de que meu pai teria ficado falido. E ao som desta balada, dançaram todos aqueles que tanto desejaram vê-lo perdido em desgraça sem dinheiro, sem prestigio de outrora, sem nada. Nunca nenhum deles se dignou vir perguntar ao próprio pela veracidade do boato. Nunca nenhum se preocupou oferecendo ajuda. Nada. O que importava, isso sim, era dar continuidade a esta nefasta mentira, tornando-a viral no seio da família. Porquê? Porque fazia subir o ego a todos eles que se sentiram pequeninos durante anos em que ele estava no apogeu.

Mas meu pai, que sabia que nunca falira nem muito menos caíra em desgraça,  respondeu com o seu silêncio à idiotice daqueles irmãos e de seu pai. Poderia ter debatido, com factos, por por ponto cada linha desta carta. Poderia ter dito ao pai que as "riquezas" das irmãs  se resumiam a 1 terreno dado por ele onde construíram casa e uma reforma que com alguma sorte será inferior ao salário mínimo; que o cunhado não tem 3 moradas de casa mas sim duas mas que uma delas fora construída em cima de um armazém que lhe pertencia; que não fora ao velório da mãe mas não faltara ao enterro da mesma, ao contrário dele; que não faliu, que vendeu porque quis por largos milhões que lhe permitiu viver sem reforma o resto da vida e que do Canadá e França juntamente com a de cá, passou a ter 1 reforma milionária graças aos descontos que eu os "obriguei" a fazer.

Meu pai poderia ter contestado. Mas calou-se. Porque os sábios não desperdiçam energias com idiotas. E por muito que ele tentasse explicar fosse o que fosse, a vontade de acreditar no falhanço dele era muito maior do que verem a verdade.

Sim, meu pai afastou-se da família. A dado momento virou costas e foi... E há quem não lhe perdoe por o ter feito. Mas isso é outra história...

"MÃE! OLHA!!"

"Mãe! Olha!!" Foi assim que no domingo pela manhã meu filho mais novo, radiante como se tivesse conquistado o universo, me mostrava a sua proeza: acabara de aprender a andar de bicicleta! Enquanto o observava ternamente, orgulhosa de tamanho feito, uma nostalgia invadia-me a alma. Não tinha memórias da minha primogénita a andar de bicicleta quanto mais a aprender. Sem querer voltei àqueles terríveis anos onde a dado momento tive de escolher entre permanecer na clausura de um homem castrador que me violentava psicologicamente, ou fugir correndo o risco de perdê-la...  Foi das decisões mais agonizantes que tive de tomar com apenas 22 anos. E pergunto-me onde fui buscar tanta coragem.

Os ganhos foram imensos mas as perdas também. Renasci das cinzas e voltei a sentir-me viva. Mas pelo meio perdi o que de mais precioso eu tinha: minha filha. É certo que nunca imaginara que a fosse perder. Naquele tempo não se falava de casos em que a mãe perdia os filhos para os ex-maridos, mas até nisso minha história foi tão diferente.

Perdi a meninice da minha filha enquanto lutava pela minha própria existência. Eu sei, eu sei, que há tantos outros motivos que nos levam a falhar os primeiros passos, as primeiras falas, as primeiras letras. Mas não sei como evitar este sentimento de vazio no campo das memórias. É como se várias peças de um puzzle me faltasse nesta tela da vida.  E sinto dor, sinto tristeza por não puder jamais completar o que falta. 

Os momentos com nossos filhos são preciosidades raras incalculáveis de que só nos damos conta, verdadeiramente quando as perdemos.