É comum hoje em dia os pais serem confrontados com este tipo de diálogos:
- Mãe quero um portátil!
- Ó filha, mas para quê se tu já tens um computador no quarto!
- Mas um portátil é mais fixe!
- Claro que sim, mas tu não tens idade para ter um, nem te faz falta e é caro!
- Pois mas as minhas colegas lá da escola têm... Algumas também têm tablet e eu não...
Quantas vezes depois não ficamos com a sensação de que damos pouco aos nossos filhos e até surge um sentimento de culpa por não podermos pô-los ao nível dos restantes colegas de escola?
Do tempo dos nossos pais para os dias de hoje, houve uma evolução gigantesca no nível de vida das pessoas o que evoluiu num consumismo desenfreado. A tecnologia por exemplo, evoluiu tanto que aparelhos como o telemóvel, acessíveis apenas aos mais abastados financeiramente, passaram a fazer parte do dia a dia de quase toda a população. Não é por isso de admirar que se tenha banalizado a aquisição de bens não essenciais que eram de uso exclusivo de adultos e passaram agora para mãos dos mais novos. Os pais modernos não querem que os filhos fiquem privados do quer que seja, entendem que a qualquer necessidade material, devem responder com um "sim" para que não experimentem a frustração que sentiram em crianças quando queriam um brinquedo e não lho davam. Por isso, quererão que os filhos tenham mais e melhor que os colegas porque assim sentem que lhes valorizarão o ego tornando-os poderosos junto dos colegas.
Quando eliminamos frustrações, retiramos todos e quaisquer obstáculos no caminho dos nossos filhos e deste modo, estamos a contribuir para que no futuro não sejam capazes projectar uma vida sozinhos. Serão eternamente dependentes de terceiros para resolverem todas e quaisquer questões que surjam no seu caminho. E com alguma sorte, só conseguirão sair do conforto da casa dos pais aos 40!
Não ceder a tudo que os nossos filhotes nos pedem é um acto de amor. Estamos a construir pessoas que saberão o valor das coisas e o que custa adquirí-las. Criarão objectivos para obterem o que querem, poupando a mesada ou inscrevendo-se num part-time nas férias de verão. Serão activos e com iniciativa. Saberão que para terem o tão ambicionado IPAD terão de lutar por ele. E isso ensina-se logo de pequenino...
Preocupa-me o que estes pais modernos andam a fazer, não tanto por mim mas por uma geração que vão criar. Pessoas que frustrarão à primeira dificuldade porque tiveram tudo sem esforço quando debaixo da alçada dos pais; pessoas que mais facilmente roubarão para terem o que querem do que trabalhando e sacrificando-se por elas; pessoas eternamente insatisfeitas porque dependem das roupas de marca e tecnologias de ponta para serem felizes; pessoas vazias de valores completamente adictas ao consumo desenfreado como único objecto de vida.
Aos pais cabe dar aos filhos aquilo que não se vende nem se compra em lado algum por muito dinheiro que se tenha: educação! É o bem mais precioso que lhes deixamos de herança e que infelizmente já escasseia por entre os jovens. Ensinar-lhes a sobreviver nesta selva da vida e dar-lhes as "ferramentas" necessárias para que possam lutar, evitará transformá-los em eternos solteirões a viverem com os pais, incapazes de enfrentar o Mundo...
Dar educação não custa senão amor, dedicação e muita determinação. Daí não é preciso ser-se rico para dar o melhor aos filhos. Mas é preciso ser-se uma rica pessoa para sermos bons pais.
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