"Mãe! Olha!!" Foi assim que no domingo pela manhã meu filho mais novo, radiante como se tivesse conquistado o universo, me mostrava a sua proeza: acabara de aprender a andar de bicicleta! Enquanto o observava ternamente, orgulhosa de tamanho feito, uma nostalgia invadia-me a alma. Não tinha memórias da minha primogénita a andar de bicicleta quanto mais a aprender. Sem querer voltei àqueles terríveis anos onde a dado momento tive de escolher entre permanecer na clausura de um homem castrador que me violentava psicologicamente, ou fugir correndo o risco de perdê-la... Foi das decisões mais agonizantes que tive de tomar com apenas 22 anos. E pergunto-me onde fui buscar tanta coragem.
Os ganhos foram imensos mas as perdas também. Renasci das cinzas e voltei a sentir-me viva. Mas pelo meio perdi o que de mais precioso eu tinha: minha filha. É certo que nunca imaginara que a fosse perder. Naquele tempo não se falava de casos em que a mãe perdia os filhos para os ex-maridos, mas até nisso minha história foi tão diferente.
Perdi a meninice da minha filha enquanto lutava pela minha própria existência. Eu sei, eu sei, que há tantos outros motivos que nos levam a falhar os primeiros passos, as primeiras falas, as primeiras letras. Mas não sei como evitar este sentimento de vazio no campo das memórias. É como se várias peças de um puzzle me faltasse nesta tela da vida. E sinto dor, sinto tristeza por não puder jamais completar o que falta.
Os momentos com nossos filhos são preciosidades raras incalculáveis de que só nos damos conta, verdadeiramente quando as perdemos.
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