É impossível contar a vida do meu pai sem falar neste episódio. Esta carta, recebida no ano de 2006 alterou por completo o modo como passou a encarar a família e ele, já doente mas consciente ainda do que se passava, nunca mais foi o mesmo. A amargura que passou a carregar levou-o a enfrentar o tirano do meu avô como nunca o tinha feito até então! A carta começava assim:
"Ao amaldiçoado M.........
Grande amigo escrevo-te esta para te agradecer o teu bom procedimento, que não quero morrer sem o fazer. Tu tinhas-me dito que o animal do teu irmão, que se fosse a ter nota de bom comportamento era ele o melhor e mais bem comportado. Pois eu quero que tu fiques a saber que és tu o campeão, o maior cobarde que eu conheci na minha vida. Tu és o maior cobarde do Mundo, tu não és um homem és um bruto que não vale nada e teu irmão esse animal. Deus castigou-vos que sois vós o desprezo de toda a família. Cobardes! Querias vingar-te das tuas irmãs por elas serem mais ricas! Ganharam-no elas e não eu que lho dei. Já pensaste que Deus castiga. Tinhas desprezo de ser cunhado do "Badolas" e ele hoje é melhor que tu e mais rico. Tem 3 moradas de casas e tu tens uma. Lá está Deus a castigar os maus. Deixaste a tua santa mãe morta e foste trabalhar para a grande fábrica. Valeu-te a pena. Trouxeste de lá as cuecas borradas e a D. Rosa a fralda suja. Cobardes que deixaste a vossa santa mãe e nem viestes rezar à noite com o padre. Vós estais no inferno mas não vai ser só. Esperai para o resto. Mas quero que vós todos vão levar no cu. Nunca precisei de vós nem preciso. Querias ser o mais rico e és a vergonha da minha família. Vós não tendes nada por dentro. Ide ao confesso e dizei a verdade e depois fazei o que o padre vos mandar que vós e a vossa família bruxedo. Que as igrejas para vós não tem valor e vós sois como os cães. Disseste-me que era preciso perdoar. Impostor! Quereis que vos perdoe vós cobardes que eu tinha nojo de vós, trabalhaste na França e no Canadá e na fábrica. Era pra estares rico mas foi tudo por água abaixo no resto ainda vais ver. Põe a cabeça dura."
O meu avô reagira assim depois de meu pai decidir enfrentar a tirania dele. Pela primeira vez na sua vida decidira que nunca mais se deixaria rebaixar ou desautorizar por ele. E ele, à boa maneira de um ditador, contrariado, exprimia a sua raiva assim.
Obviamente que meu pai tinha consciência que ele estava a ser manipulado. As filhas, de quem meu avô dependia e por quem tinha preferência nos cuidados primários à esposa, maniatavam-no ao ponto de lhe exigir esta lealdade perante o facto de, a dado momento, ter decidido retirar-se da vida deles.
A carta apesar de tenebrosa, é reveladora. É um documento precioso que confirma tudo o que tenho vindo a contar e que os "magníficos" da família renegam. Carregada de malvadez e hipocrisia, ele vai relatando tudo aquilo em que passou a acreditar a partir de boatos infundados e que tanto quis que fossem reais. Eu sabia que ele era o "divulgador" da tão badalada notícia de que meu pai teria ficado falido. E ao som desta balada, dançaram todos aqueles que tanto desejaram vê-lo perdido em desgraça sem dinheiro, sem prestigio de outrora, sem nada. Nunca nenhum deles se dignou vir perguntar ao próprio pela veracidade do boato. Nunca nenhum se preocupou oferecendo ajuda. Nada. O que importava, isso sim, era dar continuidade a esta nefasta mentira, tornando-a viral no seio da família. Porquê? Porque fazia subir o ego a todos eles que se sentiram pequeninos durante anos em que ele estava no apogeu.
Mas meu pai, que sabia que nunca falira nem muito menos caíra em desgraça, respondeu com o seu silêncio à idiotice daqueles irmãos e de seu pai. Poderia ter debatido, com factos, por por ponto cada linha desta carta. Poderia ter dito ao pai que as "riquezas" das irmãs se resumiam a 1 terreno dado por ele onde construíram casa e uma reforma que com alguma sorte será inferior ao salário mínimo; que o cunhado não tem 3 moradas de casa mas sim duas mas que uma delas fora construída em cima de um armazém que lhe pertencia; que não fora ao velório da mãe mas não faltara ao enterro da mesma, ao contrário dele; que não faliu, que vendeu porque quis por largos milhões que lhe permitiu viver sem reforma o resto da vida e que do Canadá e França juntamente com a de cá, passou a ter 1 reforma milionária graças aos descontos que eu os "obriguei" a fazer.
Meu pai poderia ter contestado. Mas calou-se. Porque os sábios não desperdiçam energias com idiotas. E por muito que ele tentasse explicar fosse o que fosse, a vontade de acreditar no falhanço dele era muito maior do que verem a verdade.
Sim, meu pai afastou-se da família. A dado momento virou costas e foi... E há quem não lhe perdoe por o ter feito. Mas isso é outra história...
Obviamente que meu pai tinha consciência que ele estava a ser manipulado. As filhas, de quem meu avô dependia e por quem tinha preferência nos cuidados primários à esposa, maniatavam-no ao ponto de lhe exigir esta lealdade perante o facto de, a dado momento, ter decidido retirar-se da vida deles.
A carta apesar de tenebrosa, é reveladora. É um documento precioso que confirma tudo o que tenho vindo a contar e que os "magníficos" da família renegam. Carregada de malvadez e hipocrisia, ele vai relatando tudo aquilo em que passou a acreditar a partir de boatos infundados e que tanto quis que fossem reais. Eu sabia que ele era o "divulgador" da tão badalada notícia de que meu pai teria ficado falido. E ao som desta balada, dançaram todos aqueles que tanto desejaram vê-lo perdido em desgraça sem dinheiro, sem prestigio de outrora, sem nada. Nunca nenhum deles se dignou vir perguntar ao próprio pela veracidade do boato. Nunca nenhum se preocupou oferecendo ajuda. Nada. O que importava, isso sim, era dar continuidade a esta nefasta mentira, tornando-a viral no seio da família. Porquê? Porque fazia subir o ego a todos eles que se sentiram pequeninos durante anos em que ele estava no apogeu.
Mas meu pai, que sabia que nunca falira nem muito menos caíra em desgraça, respondeu com o seu silêncio à idiotice daqueles irmãos e de seu pai. Poderia ter debatido, com factos, por por ponto cada linha desta carta. Poderia ter dito ao pai que as "riquezas" das irmãs se resumiam a 1 terreno dado por ele onde construíram casa e uma reforma que com alguma sorte será inferior ao salário mínimo; que o cunhado não tem 3 moradas de casa mas sim duas mas que uma delas fora construída em cima de um armazém que lhe pertencia; que não fora ao velório da mãe mas não faltara ao enterro da mesma, ao contrário dele; que não faliu, que vendeu porque quis por largos milhões que lhe permitiu viver sem reforma o resto da vida e que do Canadá e França juntamente com a de cá, passou a ter 1 reforma milionária graças aos descontos que eu os "obriguei" a fazer.
Meu pai poderia ter contestado. Mas calou-se. Porque os sábios não desperdiçam energias com idiotas. E por muito que ele tentasse explicar fosse o que fosse, a vontade de acreditar no falhanço dele era muito maior do que verem a verdade.
Sim, meu pai afastou-se da família. A dado momento virou costas e foi... E há quem não lhe perdoe por o ter feito. Mas isso é outra história...
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