segunda-feira, 8 de junho de 2015

O LUTO FAZ-SE NO CORAÇÃO



Eu bem que tento ignorar a estupidez alheia. Eu bem que tento nem sequer saber o para aí dizem sobre a minha humilde pessoa. Mas em vão. Há-de sempre haver alguém bem intencionado, que fará questão de me deixar bem informado sobre o que circula por aí nos "média populares". E é assim que por acaso do destino sei que alguém se incomodou com a minha camisola branca no dia do velório do meu pai.

De facto, é uma questão muito grave e que tem de ser debatida em público. Que blasfémia! Mas isso é traje para se ter num dia de luto?!Que pena terem abolido a forca para pessoas que prevaricam com tamanho pecado capital! Mas há acto mais condenável que vestir uma camisola branca num enterro?! Estas pessoas não admitem injustiças, nem erros tamanhos! Uma filha sem consideração nem sentimentos pelo falecido! Uma filha tão desprovida de carácter foi ter a malvadez de demonstrar ao mundo que não possui amor por quem parte. O desprezo escarrado numa camisola branca! Que vergonha de filha! Que vergonha...

Na verdade elas não sabem que o problema que as afecta é orgânico. Não sabem que possuem um distúrbio grave intestinal. E que, os gases, não tendo por onde sair, sobem ao cérebro e prejudicam seriamente o raciocínio. A "porcaria" reprimida no crânio traz lesões irreparáveis ao nível cognitivo, o que as leva, coitaditas a dizerem "porcaria" da boca para fora! É mal que infelizmente por aí abunda em muita gente...

Porque, na verdade, o luto faz-se no coração. E o coração mora cá dentro. Não se veste. Não se exibe. Não se proclama. Não se grita. Sente-se! E eu sinto... sinto tanto que o aperto parece sufocar. Sinto tanto que a dor já passou a andar comigo para todo o lado. Sinto tanto que me tornei imune ao que me rodeia. Que passei a relativizar tudo e todos como se nada mais tivesse importância como outrora. Como se a vida não passasse de um sopro que ameaça apagar a vela que arde. A qualquer momento... 

O que vesti. O que visto. O que faço ou deixo por fazer, nada avalia sentimentos. Porque eles são meus e só eu os conheco, só eu posso falar deles. Só eu os sinto. E cá fora, na "montra", só fica aquilo que por vezes não cabe cá dentro e que de tão imenso, transborda.

Porque o luto faz-se no coração e não tem cor... tem apenas dor que não se vê...

  

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