quinta-feira, 5 de novembro de 2015

O QUE DIZEM AS MINHAS RUGAS



Apesar de não me afligir com o avanço da idade, não nego que estou atenta aos pequenos declínios que se vão notando aqui e ali. A flacidez mais acentuada, o efeito da gravidade nos seios e nádegas, os cabelitos brancos que resolvem aparecer aos molhos e sempre mais, onde são visíveis. Sim, eu também não gosto nada de envelhecer. E confesso que desde que fiquei a um passo dos cinquenta, tenho olhado mais para mim do que o habitual...

Contudo, envelhecer não me assusta. A sabedoria adquirida nesta já longa vida, não me deixa entristecer. Aprendi que é um privilégio negado a muitos, ainda cá estar. Que apesar de não ter tido um percurso tranquilo, a verdade é que devo o que sou à turbulenta vida que me foi destinada. E se por um lado, ela me foi madrasta, por outro, tenho muitos motivos para sorrir. Porque na verdade fui tantas vezes desafiada, mas nunca derrubada. E tornei-me gigante Adamastor.

Por isso, imaginei sempre que ao envelhecer as primeiras rugas seriam na testa, onde as adversidades se manifestam. Mas não. Curiosamente, eu que tanta lágrima verti, que tanta dor transpirei, que tanta raiva gritei, as minhas primeiras rugas são de risos, são de sorrisos, engenhosamente colocadas no contorno dos olhos, nos cantos da boca lembrando-me que também fui muito feliz...

As minhas rugas dizem que abracei meus dias sorrindo. Que afastei meus males cantando. Que fui feliz não pela vida perfeita que jamais tive, mas pelo amor que nunca faltou.  Dizem que sorri mais do que chorei. Que distribuí sorrisos por onde andei. E que a felicidade que encontrei, foi de ver sorrir quem por mim passou.






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