Vir da América e aterrar em 1979 em Portugal, era como chegar hoje a um país subdesenvolvido. Recordo-me ainda do choque. Não haviam autoestradas que nos levasse do aeroporto de Lisboa até à terra natal da minha mãe, no norte. Ia- se pela estrada nacional, que aos meus olhos era estreita e cheia de curvas, mau piso e demorava horas infindáveis. Quando paramos para comer, o empregado de mesa não sabia o que era coca-cola, mas que tinham "spur cola", que provavelmente seria idêntico. Os carros tinham todos aspecto de velhos e pequeninos. As casas, um ar empobrecido e deslavadas sem jardins e com quintais feios. As vacas da terra passeavam-se com seus donos pelos caminhos e estrada, deixando o odor a bosta um pouco por todo o lado. Quase todos os habitantes da aldeia tinham gado e dedicavam-se à agricultura de subsistência. As compras faziam-se na "venda", pequeno estabelecimento com balcão, onde se pedia o que se queria levar. O melhor supermercado era em Viana, na cidade, mas nem esse convencia. Assim que entramos, perguntei atónita: "mãe!, isto é um supermercado?!" habituada que estava às grandes superfícies! A hora da missa também era um momento estranho tirado duma outra dimensão. A igreja era dividida em dois: homens à frente; mulheres atrás. Com o pormenor de não existirem bancos. Era em pé que se ficava durante uma hora. E quando a fadiga aparecia, estendia-se um lenço no chão e sentávamo-nos. As mulheres, sempre de negro, vestiam saias largas e compridas, lenços na cabeça e xailes pelas costas. Os homens não saiam sem a boina. A escola era outro pesadelo. Mesas de madeira velhas, um quadro de lousa minúsculo na parede em salas pequenas. Sem equipamentos, sem material. Frias e descaracterizadas. Muito diferentes das escolas que conhecera, acolhedoras, cheias de tecnologia, equipamentos didácticos, amplas e cheias de luz. E ainda a televisão! Ah! a televisão! A preto e branco. Só com um canal. O canal do Estado! E eu que já sabia que as havia a cores, enormes, com mais canais, mais escolhas de programas, mais diversidade... Para não falar dos hospitais. Quando fui visitar meu avô no centenário edifício, recordo-me do momento em que, de tão velho que era, ao observar os buracos no chão, tinha medo que ele desabasse...
Aos olhos de quem nunca saiu daqui, Portugal era um país onde se vivia bem depois do 25 abril. Aos olhos de quem vinha doutra civilização, era pobre e atrasado. Daí a curiosidade dos meninos da escola pelas minhas histórias, em saber como era o mundo lá fora... E o espanto de não saberem sequer do que falava quando dizia que fazia compras em lugares tão grandes que cabia tudo lá dentro como se fosse uma cidade dentro de outra cidade... O mesmo acontecia quando descrevia as escolas por onde tinha andado... Do hospital onde tinha sido operada às amígdalas cujo quarto parecia de hotel...
A verdade é que, foi só depois de Mário Soares assinar a nossa integração na CEE, agora UE, que Portugal em quase 30 anos, mudou radicalmente. Passou a ser dos melhores em vias de comunicação; a ter escolas amplas tecnologicamente bem equipadas; hospitais com tecnologias de ponta; serviços públicos com muita qualidade. Devemos o que somos a esse tratado, a essa integração e digam lá o que disserem, foi das melhores coisas que podiam acontecer a um país periférico e sem recursos próprios, para alcançar tamanho desenvolvimento que nos pôs ao nível europeu.
Se hoje, apesar desta integração, não estamos bem, não se deve de todo a UE. Deve-se a "nós" (país) que não soube gerir os benefícios dessa integração e embriagado com os imensos subsídios e programas de desenvolvimento, esbanjou, esbanjou, esbanjou achando que era fonte inesgotável. Desde governos de todas as cores políticas, ministros, presidentes de junta, empresários, banqueiros, até ao nosso vizinho do lado, muitos foram os que deitaram mão a dinheiro destinado ao desenvolvimento, em uso próprio para compras de casa, de carro, de luxos... ou obras fúteis. Quantos de nós não conhece alguém que pediu subsídios a fundo perdido da UE para formação e nunca formou ninguém... Para estufas para produção agrícola e nunca plantou sequer 1 erva... Para a montagem de empresas... fantasma.
Se hoje, apesar desta integração, não estamos bem, não se deve de todo a UE. Deve-se a "nós" (país) que não soube gerir os benefícios dessa integração e embriagado com os imensos subsídios e programas de desenvolvimento, esbanjou, esbanjou, esbanjou achando que era fonte inesgotável. Desde governos de todas as cores políticas, ministros, presidentes de junta, empresários, banqueiros, até ao nosso vizinho do lado, muitos foram os que deitaram mão a dinheiro destinado ao desenvolvimento, em uso próprio para compras de casa, de carro, de luxos... ou obras fúteis. Quantos de nós não conhece alguém que pediu subsídios a fundo perdido da UE para formação e nunca formou ninguém... Para estufas para produção agrícola e nunca plantou sequer 1 erva... Para a montagem de empresas... fantasma.
Entrar na bancarrota e culpar os outros por isso, é um problema muito nosso. É cultural. A negação é a defesa de quem não consegue humildade suficiente para reconhecer os erros para poder corrigi-los. Porque se tivéssemos sido bons alunos, teríamos desenvolvimento e contas em ordem. E mesmo com colapso financeiro mundial, teríamos resistido, sem muita mossa, porque nossos cofres do Tesouro teriam fundos para suprir essa dificuldade. Como não foi o caso, e já estávamos tecnicamente falidos antes da recessão mundial, a bancarrota foi o que nos esperou.
Sou pró europa, sem sombra de dúvida! Porque com meus olhos vi a transformação gigantesca de evolução do nosso país. Há muito ainda por fazer. Há muito ainda para conquistar. Mas dentro da comunidade temos um suporte maior que bem aproveitado pode levar-nos ao nível dos melhores. Sozinhos é regredir. É isolamento. Sobrevivência. É passar de cavalo para burro, num piscar de olhos.
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