Partiram numa manhã fria de Novembro com as malas cheias de sonhos. Não sabiam o que lhes esperava. Não sabiam o que o destino lhes reservava, mas foram. Corajosamente, foram. Presas à esperança de uma melhor vida de um melhor futuro, despediram-se sem saberem quando voltavam. Vi-as partir por aquela porta com as lágrimas teimosamente a caírem-me, por uma saudade que começara ainda elas apenas tinham desaparecido por minutos... Deixava assim, no aeroporto, minha filha e uma amiga a caminho de Londres.
Sabia que a caminhada ia ser difícil. Sem contratos de trabalho, começar do zero é duro. Mas quando se tem amigos dos bons, daqueles que nos estendem verdadeiramente a mão, sem esperarem nada em troca senão gratidão, os espinhos tornam-se rosas e a vida segue facilitada. Minha filha tem duas pérolas assim. O irmão da amiga que as recebeu em sua casa, dando-lhes tecto e comida até se poderem orientar sozinhas; a amiga que não desistiu de a convencer a aceitar o desafio. Uns anjos na Terra que poucos têm o privilégio de ter. A mim coube-me a tarefa de lhe dar o empurrão final quando ela, a medo, me perguntava "o que achava da ideia de ela emigrar". Mesmo sabendo que a estava a catapultar para o vazio sem rede, nunca duvidei que, sendo filha de gente corajosa e guerreira, lá chegaria sem esforço.
Não foi fácil tomar a decisão. Teria de deixar uma vida para trás. E se as experiências profissionais frustradas não lhe deixavam saudades, afastar-se dos afectos, daqueles que ela tanto amava, destroçava-a. E na procura de conforto repetia-lhe o que a vida me ensinara sobre o assunto: "quem te ama permanecerá contigo." Se foram estas as palavras mágicas ou não, o certo é que a decisão de partir em busca de novos horizontes e lutar por uma vida melhor acabou por tomar conta dela.
Vida de imigrante já é por si difícil, mas imigrantes aventureiras, pior ainda. As expectativas eram muitas, talvez demasiadas e quando as primeiras adversidades chegaram, a prova mostrou-se, afinal, extremamente dolorosa de passar. A pensarem que rapidamente se enquadrariam numa actividade profissional das suas áreas, logo perceberam que afinal de contas, não era assim tão garantido como isso. E o tempo a passar... Sempre a passar... À distância tentava acudir ao desânimo que tantas vezes tomou conta dela. Um desânimo que se tornou arrasador assim que um ano passou... Mesmo assim, perante lágrimas e revolta, orgulho-me de dizer: nunca baixou os braços! Trabalhou afincadamente, dia após dia, mesmo derrubada pelas estatísticas que teimavam em dizer que ela estava lá há demasiado tempo para algo acontecer. Mas na vida também há que aprender que, tudo é relativo e a fórmula de uns, não se aplica a outros e que se uns conseguem o que querem assim que pousam o pé no chão, outros terão de escavar até ao centro da Terra para lá chegar. Desistir é que faz uns alcançarem o sucesso e outros não.
Foi da mãe, que por sinal sou eu que estou a escrever isto, que ela levou o maior banho de adrenalina de sabedoria, adquirida a pulso e suor, que a fez ressuscitar. Lembro-me de uma conversa longa e intensa. Uma derradeira conversa em que não permiti outro caminho senão o da luta, o da persistência. Uma conversa onde não deixei que houvesse lugar a desistências nem recuos. Uma conversa que não tenho dúvidas impulsionou o que veio a seguir, quase logo a seguir: a chamada para a concretização do seu grande sonho - a contratação!
Minha filha demonstrou-me o que faltava conhecer dela. Uma lutadora exímia, uma trabalhadora incansável na luta pelos seus objectivos, uma mulher corajosa e destemida. Uma verdadeira guerreira de quem me orgulho. Venceu esta etapa com distinção, a pulso e muito trabalho. Um sucesso merecido na área que ela escolheu e que a vai levar bem mais longe.
Porque este é apenas um começo de um futuro promissor.
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