sexta-feira, 21 de agosto de 2015

AZAR NÃO É KARMA



Por vezes não sei se choro ou se rio quando certas criaturas se rejubilizam com o azar dos outros, chamando-o ignorantemente de karma. Estas pessoas de alma obscura parecem estar escondidas, acompanhando cada passo dos outros, espreitando cada movimento, à espera da tão desejada queda! Depois, ligam o megafone, e pelas ruas, soltam a voz para aclamar as desgraças alheias, convictos de que se trata de um retorno pela ousadia de alguns em po-los no lugar dizendo simplesmente as verdades que eles não querem ouvir. Depois é vê-los vitoriosos a esfregarem as mãos de contentes só por verem o outro a tropeçar na vida.

Acontece que azar não é karma. Que todos nós, comuns mortais estamos sujeitos ao azar e que não depende da vida que levamos mas sim da sorte que nos calha. Dizer-se que alguém foi castigado assim que descobriu doença oncológica, perdeu um ente querido, foi despedido ou perdeu um negócio, é de tamanha imbecilidade que nem merece comentários, apenas desprezo. O azar é aquilo que nos vem bater à porta mesmo que tenhamos tido uma vida correta e decente. Karma é o retorno daquilo que fazemos ou dizemos a alguém. É a consequência dos actos e palavras dirigidas que, se forem cruéis, mais cedo ou mais tarde retornam, seja pela mesma via, seja por outros. Mas retorna. 

O karma é sempre resultado daquilo que fazemos aos outros e não vem em forma de tragédia. Vem em estado de ensinamento, de lição de vida, de aviso que claramente se distingue do tão malfadado azar.

Tenho na minha vida almas vis que se contorcem de tanto que querem a minha desgraça. Que me acompanham desde que existo e se esforçam por provocar a minha queda. A ponto de atribuírem à doença do meu pai e posterior perda do meu negócio ao karma por ter ousado pronunciar-me sobre eles ao fim de 35 anos de silêncio. Sobre isso nem sequer me manifesto. Perdôo-lhes a ignorância de serem pobres de espírito ao ponto de não perceberem que se eu fosse igual, estaria agora a vangloriar-me com as desgraças que não param de cair em cima deles mesmos. 

Mas a natureza foi demasiado generosa comigo em bom senso e inteligência para saber que azar não é karma.

Sem comentários:

Enviar um comentário