sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

DIÁRIO DE UMA MEMÓRIA PERDIDA - ÁGUA VS CAVALO

O meu pai passou de bestial a besta em menos de um piscar de olhos. Elogiado por todos os irmãos durante as partilhas, depressa azedaram as relações entre 5 deles assim que ele se quis impor sobre determinados acontecimentos com os quais ele não estava de acordo.  Com efeito, unilateralmente, sem dar a conhecer ao próprio, uma das irmãs resolve colocar um cavalo na sua propriedade, contígua à do meu pai mas sem barreiras permitindo que ele andasse livremente sobre todas as propriedades vizinhas. Este assunto poderia ter tido um desfecho diferente caso essa irmã tivesse préviamente consultado meu pai sobre o caso. Mas, tal como em tantas outras coisas, nesta família, todos se acham com direitos mesmo sobre aquilo que já pertence a outros e por isso essa conversa nunca aconteceu. Por outro lado, a mesma sabia que dificilmente se entenderiam por causa de cartas acusatórias recebidas aquando da doença da minha avó... Quando meu pai toma conhecimento do que se estava a passar, ordenou que fosse retirado de lá o animal. Enquanto isso, procedeu ao muramento da propriedade. Só este episódio valeu-lhe amargas trocas de palavras mas a história não ficava por ali... Quisera o destino que a propriedade da irmã inundasse e acto imediato, a solução encontrada pela mesma passava por partir o muro existente pertencente ao meu pai para fazer fluir a água... Mais uma vez, sem o conhecimento dele, claro! Alertado pelo irmão do meio, tomou imediatamente medidas mesmo que as mesmas recaíssem sobre o seu próprio pai que era o autor dos estragos! De facto, meu avô, agiu àquela época em consonância com a filha independentemente de saberem ambos que não podiam agir assim. Como autor dos danos, meu pai resolveu levar o assunto a tribunal onde a dado momento, quando lhe perguntam o que o levou a queixar-se, ele respondeu:" Eu não quero indemnizações. Eu quero com isto que meu pai entenda que já cresci e que a fase de andar connosco  a ponta pé como quando éramos miúdos, já acabou."    

Na verdade, respeito pelas opiniões dos outros, pelas coisas dos outros não é coisa que abona por aqueles lados. E por isso, quando meu pai discordou da forma como estavam a deliberar sobre os cuidados à sua mãe, quando meu pai se impôs por causa do cavalo, quando meu pai nomeou o irmão do meio para lhe cuidar dos seus assuntos e quando tentou impedir que lhe alagassem a propriedade com água, os 5 irmãos, por contágio, cortaram relações com ele.  

Não há mentira maior do que a meia verdade porque apenas a parte da mentira é que é revelada. E nesta história como em todas vividas na família paterna, nunca se conta os factos revelando todos os pormenores doam a quem doer. Contorna-se aqui, esconde-se ali, acrescenta-se acolá e no final temos relatos impressionantes distorcidos, manipulados para dar ênfase ao lado que mais interessa. 

Felizmente há outros que, mesmo contra si ou outros, têm coragem de relatar os eventos sem pinceladas para agradar. Eu sou uma delas.   

   

Sem comentários:

Enviar um comentário