segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O PREÇO DA SINCERIDADE

Nem sempre fui assim. Totalmente sincera. Como toda a gente, quando era mais jovem, por necessidade de integração nos grupos, repetia aos outros o que eles queriam ouvir para não ser rejeitada, colocada à parte. Já de pequena tinha consciência que para ser popular, não se podia ser sincero. Mas ao amadurecer decidi não lutar mais contra minha natureza e aprendi que o melhor teste à veracidade das relações, é sermos genuínos. Uns ficarão adorando o nosso verdadeiro "eu", outros partirão porque não lhes enchemos o ego. A nossa sinceridade filtrará os que nos rodeiam e a multidão desaparece deixando lugar apenas aos mais leais.  

Aparentemente, o preço a pagar pela nossa sinceridade é muito elevado e muitos não suportam ficar isolados num grupo minúsculo de pessoas autênticas. Mas eu não. Perdi a popularidade mas ganhei qualidade nas minhas relações interpessoais. Hoje tenho a certeza de que sou rodeada de gente como eu capaz de me dizer no rosto o que sentem e não temo pelo que dirão na minha ausência. Porque dirão o mesmo que pela frente: a verdade. 

Ser sincero não é fácil. Recordo a propósito, um episódio em que uma amiga, toda entusiasmada por ter feito uma tatuagem, vir eufórica pedir a minha opinião sobre ela. Outras no grupo já lhe tinham dito que era espectacular, linda! Mas ela queria também saber o que eu  pensava. Assim que lhe vi o ombro pensei:" Como lhe vou dizer isto? Isto está horrível!" Delicadamente olhei para ela nos olhos e disse-lhe: " Não me tomes a mal, mas essa tua rosa parece mais uma couve de bruxelas! Felizmente que é temporária!" Nunca mais me esqueci do olhar que ela me deitou. Um misto de raiva e desilusão que ela não soube disfarçar. Afinal eu tinha ousado dizer "mal" da tatuagem quando todas as outras a elogiaram... Escusado será dizer que ela andou desconfortável comigo durante algum tempo até que eu a obriguei a falar sobre o assunto explicando-lhe que, uma verdadeira amiga não diz o que convém ouvir mas sim a verdade e que a verdade era que aquela tatuagem estava mal feita. Pouco tempo depois, as outras, vendo que eu tinha tido coragem de dizer o que elas não foram capazes, acabaram por lhe dizer também:" Sabes, ela tem razão, isso não parece muito uma rosa..." A partir dali, a nossa amizade nunca mais foi a mesma. Solidificou. Intensificou-se. Éramos unha e carne. E ela nunca mais aceitou ouvir outros conselhos senão de mim... 

Hoje eu não sei ser de outra forma. Mesmo que doa, prefiro ser sincera a agradar por agradar. Seja num conselho, seja numa opinião, seja num relato da vida privada, as pessoas sabem o que esperar de mim porque me revelo sem véus e ponho-me a nu sem complexos sem medos do que os outros pensem. Sou translúcida e logo inspiro a confiança dos que me seguem. E aos meus filhos a quem transmiti os mesmos valores, a quem me mostrei sempre com mais erros que virtudes, orgulha-me vê-los perpetuar a sinceridade como a essência das relações. E hoje sei que me rodeio de verdadeiros "eus" que sabem que a lealdade que em mim transborda é a maior prova de amizade que alguém pode ter.

A falsidade já não me acompanha mais graças à coragem de um dia ter preferido o caminho da sinceridade. E mesmo correndo o risco de ser mal compreendida, ser genuína não tem preço. 



    

3 comentários:

  1. Muito bom! Parabéns adoro a sua escrita, adoro ahhh sou sincera digo o que penso :)

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  2. Tive/tenho o mesmo problema. Mas subscrevo na totalidade esses valores.

    Assinado: António Lobo

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  3. Excelente...tbm digo aquilo que penso e não aquilo que aos outros agrada ouvir. Admiro a sua facilidade de expressão, tem uma cultura extraordinária.

    Joaquim Rafael

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