domingo, 31 de maio de 2015

FELIZ ANIVERSÁRIO PRINCESA





O que se dá a uma filha que adoramos, no dia de mais um ani.versário, quando ela já tem tudo e está tão bem na vida que pode comprar o que quiser?

A uma filha como a minha, por muito dinheiro que se tenha, nada que se compre é suficiente para agradecer a sua existência na nossa vida. A uma filha como a minha dá-se aquilo que nenhum dinheiro nem ouro consegue comprar: muito amor embrulhado em dois braços, os mesmos braços que tanta vez a embalaram, tantas outras a confortaram. Aperta-se o laço com força até sentir o ar a faltar, com emoção contida para não lhe quebrar os ossos de tanto apertar. 

Dá-se-lhe palavras sinceras escritas com a alma, pregnadas de sentimentos vindos directos do coração. Deixa-se soltar a voz de orgulho e grita-se para todos ouvirem o nosso amor por ela. Espalha-se o que sentimos pelo planeta, pelo universo. Clamamos o prazer de ser mãe de tão primorosa criatura. 

A uma filha como a minha soterramos com mimos, inundamos de afecto, abafamos de beijos dizendo " és a coisa mais bela que me aconteceu... Obrigada por mais um ano na tua presença".

quarta-feira, 27 de maio de 2015

A OUTRA FACE

De tanta pancada que levamos, de enganos, de mentiras, deveríamos ficar aptos a identificar num instantinho as pessoas que se aproximam de nós só por interesse, certo? Errado! Desengane-se quem pensar assim. Estas criaturas diabólicas com duas faces não têm um padrão único. São pessoas camaleónicas que se adaptam, e sofrem metamorfoses profundas capazes de enganar o mais céptico de tão bem que sabem representar. Acreditam no seu poder de persuasão feito de palavras profundas inteligentemente escolhidas, depois de rapidamente analisar a vitima. São gente sempre muito agradável e prestável capaz de tirar a camisa por nós. E para que não tenhamos dúvidas disso, fazem-no inicialmente, um sem número de vezes para que não duvidemos das sua generosa amizade. Deixam-nos de quatro, boquiabertos e rendidos a tão bela alma caridosa. Para num momento de distração, abocanhar-nos de uma dentada só!

Não há como fugir. Não há como evitar. Quando ficamos a conhecer um, logo vem outro. E ficamos depois a saber penosamente que todos são diferentes. Todos atacam ao seu jeito uns mais profissionais que outros. Uns mais inteligentes, outros mais hábeis, mas todos sempre diferentes.  Por isso, quando achamos que já conhecemos e identificamos um aldrabão, eis que nos aparece outro mais sofisticado, que nos dá outro golpe que nos deixa incrédulo.

Seria bem mais fácil se pudéssemos obter um currículo de vida de cada pessoa que se candidata a uma amizade. Avaliá-los como se avalia um pretendente a emprego, minuciosamente e com certificados de autenticidade. Aí, todos aqueles que tivessem prevaricado na vida seriam excluídos e nós salvos. Ou melhor ainda, um chip electrónico com todos os registos de uma vida que poderíamos consultar e impossível de violar. 

Enquanto esse dia não chega, só podemos confiar na nossa falível intuição e rezar para que pessoas com outra face não cruzem nosso caminho.

terça-feira, 26 de maio de 2015

O EMBUSTE

A vida já me tinha ensinado muito sobre pessoas. O suficiente pelo menos para não repetir erros do passado. Mas o curioso desta mesma vida é que ela é tão subtil a dar avisos e tão cruel a ensinar lições. Mas que raio! Não podia ser antes ao contrário? Partir logo as 2 pernas de aviso assim que estamos a entrar num embuste?!!

Ainda hoje não estou em mim. Vinte anos depois de nos termos cruzado,  estou incrédula com a descoberta. Afinal quem eu pensava que ela era, não o é. O que eu pensava ser certo ela nunca o ser, não só o é, como arrebenta a escala do inimaginável! Arrepia-me saber que me envolvi com alguém assim. Que me dispus a criar um projecto de vida em conjunto com esta alma dúbia. E pergunto-me porque razão esta gente perdida vem toda parar-me às mãos... Como acredito que nada acontece por acaso, este logro só pode ser missão. A missão de fazer parar esta criatura que somou e seguiu a vida inteira, armadilhando quem se cruzava pelos mesmos caminhos, sugando suas generosidades. A lista, que eu desconhecia, vai longa...

Há quem me acuse de ser crédula. E daí a facilidade com que me entrego. De não duvidar na mesma medida com que acredito. Mas mesmo com os murros constantes que levo, não sei ser diferente nem quero. Porque para mim as relações só fazem sentido na base da confiança plena e incondicional. Porque é assim que me apresento, é assim que preciso que sejam. Se começo com desconfiança a amizade morre ao virar da esquina. Preciso de acreditar para avançar.

Claro que a minha natureza tem custos, tem danos. Fica facilmente à mercê destes pequenos seres perdidos sedentos de alcançarem seus fins usando e espezinhando os outros. Mas por pouco tempo. A aprendizagem é tão violenta que nos dá mais imunidade ao que há-de vir. E se por um lado parece que perdemos tanto, por outro crescemos em sabedoria humana inigualável.

Porque a vida, quer queiramos quer não, só ensina na queda...



segunda-feira, 25 de maio de 2015

O PEQUENO PRÍNCIPE







Tinha 9 anos quando o recebi no meio de outros brinquedos, também eles usados. Era assim lá em casa. Volta e meia, a patroa da minha mãe, para quem ela fazia as limpezas domésticas,  resolvia retirar o entulho que tinha dentro de casa para abrir espaço a coisas novas. Nessa altura, era dia de festa para mim! Minha mãe chegava sempre carregada de coisas "novas" rejeitadas pelos outros, que faziam as minhas delícias! Nada habituada a mimos destes, pois eram tão raras as idas às compras buscar brinquedos, e esses dias eram sempre muito chorados e trabalhados. Chorados, porque tinha de andar meses a falar no que queria. E trabalhados, porque tinha de me portar bem, executar com primor todas as minhas tarefas durante imenso tempo até ter direito a recompensa!

Até ali nunca tivera um livro a não ser os que nos davam na escola para ler. Já tinha lido Robinson Crusoé e o Conde de Monte Cristo. Dois livros que devorei.  Mas em casa, nada. Meus pais não eram dados a leituras e o dinheiro era todos os meses bem guardado para um futuro regresso a Portugal. Por isso, assim que o vi, velhinho, sem capa, agarrei-o arregalando os olhos para espreitar o conteúdo. Era o MEU primeiro livro. Recordo-me do fascínio imediato que ele me causou por aquela singela personagem de um menino sozinho num planeta. E perdi a conta às vezes que o li. "Le petit prince" passou a ser minha bíblia que lia e relia e relia sem parar.

Passaram-se muitos anos e ainda o tenho. Nem sei como sobreviveu às tentativas da minha mãe em guardar espaço nas malas de regresso para as coisas "úteis". Ao folhea-lo de novo, velhinho e sem capa, tal como o recebera, constato que possuo uma preciosidade. 

Foi editado com o numero 11535...

sexta-feira, 22 de maio de 2015

"HOJE PRECISO DE ESTAR BONITO!"



Percebemos o quanto nosso filho, com quase 9 anos, está a crescer, quando espontaneamente nos diz: " Mãe! Hoje tenho de estar bonito! Olhei para ele com a ternura habitual não percebendo a razão de tanta preocupação com a imagem nesse dia. E é quando ele calmamente me explica: "Hoje temos passeio e sabes, a Filipa é meu par no autocarro! Por isso tenho de estar bonito!" Meu filho está a apaixonar-se... Com um cuidado fora do habitual, escolheu as roupas e já vestido, deu os retoques finais no cabelo, moldando habilidosamente a poupa com gel dando-lhe o corpo desejado ao estilo das vedetas de hollywood. Olhou-se mais uma vez ao espelho certificando-se que tudo estava na perfeição antes de descer. Meu menino está a crescer...

É impressionante a velocidade do tempo. Um tempo que aos 15 anos teimava em não avançar e que agora parece sumir num abrir e fechar de olhos. Olho para meu filho assustada. Não tenho tempo a perder. A meninice está a passar. 

Perdemos tanto tempo nas nossas lutas diárias completamente embriagados pelas obrigações que se impõem sempre em detrimento da família. Carregamos o peso de uma vida feita de dureza e trabalho contínuo para que nada lhes falte. A obsessão de não querer vê-los privados daquilo que consideramos essencial até que...  percebemos que eles estão a ir... 

Mas na vida dos nossos filhos é imperioso que fiquem outras coisas. Que façamos espaço para lhes deixar muito mais do que preencher necessidades básicas. Registos de brincadeiras, memórias de passeios, lembranças de momentos partilhados. E eu, mesmo sabendo que me dou sempre que posso, constato que não é o suficiente e   se quero dar mais, tenho de o fazer rápido, porque meu filho está a crescer...


quinta-feira, 21 de maio de 2015

O MEU DESACORDO ORTOGRÁFICO






Confesso que sempre tive esperança que esta ideia pacóvia de unificação da língua portuguesa abortasse a qualquer momento. Parecia tão óbvio que este assassinato autorizado por meia dúzia de iluminados linguistas, fosse cair no esgoto pela cacofonia causada na nossa tão ilustre língua portuguesa. Mas não. Pelos vistos, a proposta é tão boa que nem o facto de quase todos os homens e mulheres das letras e outros de vários   quadrantes se terem recusado a usá-lo, aí está ele, firme e hirto para seguir agora de forma obrigatória. 

A mim não é tanto pelo facto de eu querer dizer que o cágado vai de facto para a praia e meus interlocutores pensarem que eu quis dizer que o cagado foi de fato para a praia. Ou então que tenho uma empresa de tectos falsos mas telefonam-me a dizer que querem comprar uma cirurgia para pôr tetos falsos. A mim, o que realmente me atrofia de todo a mente, é não entender porque unificamos a nossa língua aos africanos ou aos brasileiros, se o berço dela é cá.  E se é nossa, quem tem de se unificar a ela são os outros! Ponto!

O curioso disto tudo é que são precisamente os países  que colonizamos, para onde transportamos a nossa língua, que nos fazem um manguito dizendo: ah! Pois é... Mas por enquanto não vamos adoptar o acordo... Alguém entende alguma coisa disto?! Então só o portuga é que quer unificar a língua? E por alma de quem?

Por outro lado, eu que sou leiga nestas matérias linguísticas, apercebo-me ao ler obras traduzidas para português brasileiro, que por muito esforço concentrado neste tão macarronico acordo de unificar as línguas, jamais poderemos fazê-lo sem eliminar ou acrescentar vocabulário. Porque no brasileiro não há autocarros. Há ónibus. Não há casa de banho. Há privada. Não há stress. Há estresse! Quanto mais agora o vocabulário africano... E a confusão é já tanta que ao contrário de outros tempos, já não consigo sequer ler um simples titulo de jornal dizendo " fisco para execuções fiscais" sem ficar a matutar o que querem com isto dizer, ate ler o artigo e perceber finalmente que "para" era afinal "pára"...

Assim, enquanto não houver cadeia para quem não o utiliza, escreverei como me ensinaram e digo NÃO à estupidificação da língua portuguesa!

O DEUS DE CADA UM





Se há coisa que eu não aprecio de todo são comentários desdenhosos sobre as crenças de cada um. Somos livres de acreditar no que bem nos apetecer sem estarmos sujeitos a julgamentos parvos. A fé num deus seja ele qual for nunca pode ser motivo de chacota. E assim como uns são livres para ter um, os outros são também livres de não ter nenhum. Mas respeito é fundamental.

Nas aulas de psicologia aprendi que os humanos são seres espirituais. Que mesmo não tendo tido nenhuma educação religiosa espontâneamente desenvolvem crenças num ser maior. É a nossa natureza que muitos contrariam até ao momento do aperto, do medo, da doença. Ainda há pouco tempo, fui surpreendida por uma imagem dum amigo a deixar velas em Fátima. Nada disto teria relevância se eu não o tivesse conhecido profundamente ateu. Mas hoje, gravemente doente, abriu caminho à fé. Porque na verdade, sem saber, ele sempre foi crente, apenas ainda estava por o descobrir. Porque na verdade, o que a maior parte faz é apenas ocultar. Não o dizem, não o demonstram, mas bem escondido, sem que ninguém o veja, são devotos e pedem ajuda divina quando a vida resolve encurralá-los.

A fé faz bem a quem a segue. É uma corrente de energia positiva fortíssima que cura, que fortalece, que nos dá um poder inagualavel que transpõe qualquer obstáculo. Não importa se ele se chama Alá, Buda ou Jesus Cristo. O que importa é a força espiritual que nos transmite e nos faz viver em harmonia com os demais. Pessoas de fé são gente de bem que procuram evoluir na espiritualidade ao encontro dos mais desfavorecidos. Gente que sabe que tem uma missão que vai muito além de uma mera existência.

Eu bem sei que há quem faça a guerra em nome das religiões. Que há gente que frequenta templos enquanto devassa a vida alheia. Mas isso são desvios de algumas ovelhas que fogem do seu rebanho. Que se perdem no significado da fé e que a usam para justificar actos malévolos.

Porque quem desdenha da fé dos outros desdenha da sua própria natureza.


quarta-feira, 20 de maio de 2015

MÚSICAS QUE FALAM

Quantas vezes não damos por nós a ouvir uma música que depois nos teletransporta para outra época da nossa vida, outras pessoas, outros locais? E ficamos ali a repassar em minutos coisas vividas como se a música que toca tivesse o condão de falar. 

Eu tenho muitas que me marcaram. São registos involuntários como separadores em capa de escola que marcam o inicio ou o fim de uma relação, um momento trágico ou bom vivido a dois, ou simplesmente emoções despertadas.  Como a canção "Billy Jean" de Michael Jackson que ficou eternamente colada à época em que escondida  dos pais, fugia para dançar na discoteca Samantha . Ou ainda "holliday" de Madonna, que me recorda a triste lua de mel que tive aos 17 anos. Mais recentemente, "love by grace" de Lara Fabien que sela a minha união com meu segurança privado, que parecia tocar em todo o lado sempre que estavamos juntos. Outras, num registo mais cómico, "Nothing gonna stop me now" de Samantha fox, clip obrigatório para a minha primogénita comer a papa. Ah pois porque esta pequena estrela só morfava em condições vip!

As músicas têm alma. Contam histórias que bem podiam ser nossas. E ao passarem pela nossa vida capturam registos de momentos feitos de emoções que ficam guardadas em memórias como os paladares ou cheiros de infância.

São músicas que falam e vivem em nós.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

MANDE-OS TODOS ESTUDAR!






Se alguma vez tiver vontade de mandar alguém bugiar, em vez de o mandar à merda, mande-o educadamente estudar! Evita stress desnecessário e está a fazer um favor a comunidade. Pense bem: se ele for à merda não vai fazer nada de útil nem sequer vai melhorá-lo em nada e provavelmente vai chatear ou prejudicar outro. Se pelo contrário o mandar estudar, as probabilidades do mundo vir a melhorar serão muitas. Será com certeza menos um idiota a dedicar-se à intrujice alheia.

Porque na verdade, quem vive em constante aquisição de conhecimentos, quem procura o saber seja lendo, seja estudando, tem uma mente mais aberta capaz de ouvir opiniões discordantes sem provocar um tsunami de emoções que oscilam entre a raiva, passam pela cólera e terminam no insulto. São capazes de crescer no meio das diferenças culturais, raciais, existenciais sem ter vontade de as suprimir.

Por outro lado quem estuda deixa de ter tempo de se ocupar da vida dos outros. De estar atento a tudo a que acontece às pessoas em seu redor com a mesqinhez habitual nas criaturas com pouca ocupação. E enquanto batalha na aquisição de novos conhecimentos, aprende a gostar de ler e pesquisar, abrindo portas a novos e deliciosos saberes que o transformarão num ser muito mais útil e interessante. E com a mente tão ocupada, dificilmente terá espaço para a cusquice e a intriga.

Já me desunhei mais do que uma vez, infelizmente, por causa dos "amigos da vida alheia" até que percebi que, não vale a pena argumentar onde reina a ignorância. É um duelo de surdos onde vence quem for mais estúpido e capaz de baixar de nível.

Por isso decidi, se doravante, alguém ousar meter outra vez bedelho a minha rica vidinha, ofereco-lhe um livro para ler!

quarta-feira, 13 de maio de 2015

DEIXAR VOAR




É impossível ser-se feliz quando nos impedem de voar. Quando nos castram de todas as liberdades fundamentais à vida. Nascemos todos para sermos livres. Livres no pensamento. Livres na palavra. Livres nos desejos. Livre nas decisões. Livres de sermos donos de nós. E à medida que vamos crescendo percebemos finalmente que o nosso maior desafio não será a luta pela nossa independência mas sim, pela nossa liberdade.

Há relacionamentos assim. Como quem fecha numa gaiola o passarinho para não voar, enclausura-se quem se ama por medo de o ver fugir. Sem perceber porém, que é precisamente por estar impedido de ser livre que ele procura soltar-se. Bastaria dar-lhe alimento todos os dias com muito carinho e manter a porta aberta para constatar que ele voltava sempre. Porque voltamos sempre para onde nos sentimos bem. E aí, em vez de uma gaiola veríamos um lar, um porto seguro onde voltar não é prisão, é prazer.

Muitos por medo cometem este terrível erro. Não querem que ela trabalhe fora por medo que ela se envolva com alguém. Não querem que saia com amigas com medo que ela seja influenciada por elas. Controlam tudo o que ela faz com medo que lhe seja infiel. Contestam o que ela veste com medo que algum homem se interesse por ela. Corta-lhe as asas pensando que assim não voa. Mas mulher que é mulher, quando não pode voar, rasteja até caber por baixo da porta, atira-se da janela. E se não houver portas nem janelas, constrói umas. Mas sai.

Depois há outros que sem cortar totalmente, vão aparando as asas para que elas sintam que até dão pequenos voos mas sempre baixos, sempre rasteiros. Dão a falsa ideia que até são liberais sem o serem de todo. São castradores "light" que iludem mas não convencem.

O segredo do sucesso das relações humanas está nesta simples regra: deixar voar. Deixar ser o que a outra pessoa quer ser. Apoiar seus sonhos, seus desejos. Não forçá-la a ser o que não quer nem a fazer o que não lhe agrada. Respeitar a individualidade de cada um sem sacrifícios nem mau humor. 

Porque quem ama respeita o ser que há em nós e ama-o como ele é sem amarras.

Porque quanto mais se solta alguém, mais vontade ele tem de regressar.






sexta-feira, 8 de maio de 2015

A VERDADE


 
A Verdade persegue-nos a vida toda como um fantasma que não sentimos nem vemos. Podemos contorná-la. Podemos modificá-la. Podemos até ofuscá-la, mas ela vai permanecer ali, firme, coladinha a nós prontinha para pôr tudo a nu na primeira oportunidade.  

A Verdade é perigosamente faminta de justiça e por isso, não poupa quem brinca com ela. Senhora nobre de doces traços, confunde os loucos que pensam poder  traí-la. Desengane-se quem pensar que ela é ingénua só porque se deixa enganar. Ela gosta de jogos porque é neles que ela surpreende com seus toques de génio rasgando as mentiras como papel. 

Ela não tem pressa. Por vezes pensamos até que ela se esqueceu de aparecer para pôr tudo no lugar. Mas não. A Verdade gosta de surpreender e escolhe sempre os melhores momentos para dar o seu golpe de misericórdia aos pobres de espírito que ousaram escondê-la.

Quem vive ignorando esta tão distinta Senhora caminha em corda bamba com o abismo aos pés. Se acharão donos do Mundo só porque souberam construir uma realidade bem longe dela. Viverão convictos que venceram e que as fantasias que criaram à sua volta serão eternas. Viverão assim até ao dia em que Ela, majestosamente lhes aparecerá pela frente retomando o que é dela. E dela é a verdade. 

Não vale a pena viver no faz de conta. Faz de conta que sou doutor. Faz de conta que sou rico. Faz de conta que sou bom samaritano. Faz de conta que não faço mal a ninguém. O faz de conta que não tem fim só para mostrar o que não se tem. O que não se é. 

Viver na verdade, pelo contrário, é viver na paz sem medo de ser surpreendido. É viver de mãos dadas com esta ilustre Senhora e fazer disso seu lema de vida. Acordar todos os dias sabendo que nenhum tapete sairá debaixo dos seus pés porque caminha em cima do que realmente construiu.

Porque se a  mentira tem perna curta, a verdade tem a imortalidade.