segunda-feira, 25 de maio de 2015

O PEQUENO PRÍNCIPE







Tinha 9 anos quando o recebi no meio de outros brinquedos, também eles usados. Era assim lá em casa. Volta e meia, a patroa da minha mãe, para quem ela fazia as limpezas domésticas,  resolvia retirar o entulho que tinha dentro de casa para abrir espaço a coisas novas. Nessa altura, era dia de festa para mim! Minha mãe chegava sempre carregada de coisas "novas" rejeitadas pelos outros, que faziam as minhas delícias! Nada habituada a mimos destes, pois eram tão raras as idas às compras buscar brinquedos, e esses dias eram sempre muito chorados e trabalhados. Chorados, porque tinha de andar meses a falar no que queria. E trabalhados, porque tinha de me portar bem, executar com primor todas as minhas tarefas durante imenso tempo até ter direito a recompensa!

Até ali nunca tivera um livro a não ser os que nos davam na escola para ler. Já tinha lido Robinson Crusoé e o Conde de Monte Cristo. Dois livros que devorei.  Mas em casa, nada. Meus pais não eram dados a leituras e o dinheiro era todos os meses bem guardado para um futuro regresso a Portugal. Por isso, assim que o vi, velhinho, sem capa, agarrei-o arregalando os olhos para espreitar o conteúdo. Era o MEU primeiro livro. Recordo-me do fascínio imediato que ele me causou por aquela singela personagem de um menino sozinho num planeta. E perdi a conta às vezes que o li. "Le petit prince" passou a ser minha bíblia que lia e relia e relia sem parar.

Passaram-se muitos anos e ainda o tenho. Nem sei como sobreviveu às tentativas da minha mãe em guardar espaço nas malas de regresso para as coisas "úteis". Ao folhea-lo de novo, velhinho e sem capa, tal como o recebera, constato que possuo uma preciosidade. 

Foi editado com o numero 11535...

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