segunda-feira, 18 de junho de 2012

A JÓIA DE FAMÍLIA

Falida, com um passivo grande, 1 pavilhão minúsculo tapado com algumas chapas de zinco, uma máquina amovível que andava pela pista e um anexo que fazia de escritório, eis o retrato da empresa adquirida pelo meu pai em 1980. Era preciso ser-se muito determinado e corajoso para acreditar neste projecto e levá-lo em diante.  Mas o meu pai era assim. Sem medo de correr atrás dos sonhos. 

Na década de 90, já com dívidas pagas, candidata-se a um apoio do IAPMEI e amplia as instalações, moderniza as máquinas e aumenta a frota de camiões. A empresa entrava assim numa nova era. Mas foi em 1993, quando após muita ponderação, deixei o ensino para abraçar o desafio de gerir ao lado do meu pai o negócio de família que a empresa se tornaria naquilo que foi até fechar e ser vendida. Criei uma nova imagem comercial, projectei-a para novos mercados, tornei-a mais competitiva com os melhores preços. O resultado fez disparar a facturação e tornou-se uma referência dentro daquele segmento, no distrito. E foi assim durante uma década até que, em 2002, os primeiros sinais de crise na construção civil começavam a aparecer... Primeiro com a invasão espanhola de produtos similares, depois com a nossa crise interna...  Apesar das quebras de 30 e 40%, com a mesma determinação de outros tempos, teríamos os dois conseguido mantê-la mesmo que para isso tivéssemos de reestruturá-la mas alguns sinais de cansaço e perturbação no meu pai indicavam que ele já não era o mesmo homem. Ninguém suspeitava que se tratava de doença e quando inesperadamente manifestou em 2004 a vontade de vender, ficamos atónitos! Essa decisão ficou no segredo dos deuses até à assinatura do contrato com os espanhois e quiçá por isso, movimentou invejas... Alguém não gostou de saber que ela tinha sido vendida por largos milhões... Outros, divertiam-se a apregoar a todo o pulmão que ela tinha sido vendida falida por mim levando  meu pai à desgraça. Sim porque, há muitas pessoas que nunca estão connosco, que não partilham nada da nossa vida, mas quando algo nos acontece, sabem mais dela que nós! Remetemo-nos ao silêncio deixando que essas vozes falassem até se cansarem. Porque há coisas que não merecem comentário, só desprezo. Na verdade sabíamos que essas pessoas precisavam de acreditar que meu pai tinha fracassado porque não suportavam sabê-lo o mais bem sucedido do todos os irmãos... 

Terminava assim um capítulo. A jóia da família foi vendida mas ficou o seu legado. Muitos anos de realização profissional e acima de tudo o prazer único de trabalhar ao lado de um grande homem a quem devo tudo o que sou e sei hoje: meu pai.

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