Era uma histeria quando ele passava. Elas alinhavam-se para o ver entrar à porta do liceu todos os dias à espera que ele desse um sinal, nem que fosse um ligeiro olhar na direcção delas. Na minha turma onde reinavam as mulheres não se falava noutra coisa. Elas já sabiam o horário em que ele poderia estar no bar para o interceptar. Mas eu nunca o vira nem fazia ideia de quem fosse. Sabia, de as ouvir falar, que tinha olhos verdes e cachos pretos, que era grande e espadaúdo, mais nada. Divertia-me a vê-las disputar a atenção do rapaz mais bonito do liceu e claro, nem me atrevia a concorrer ao lugar. Se ele mal virava o olhar para elas, tão formosas, cheias de curvas com roupinhas tão sexys era impossível reparar em mim. Pelo menos era o que eu pensava. Eu era o arquétipo do oposto do meu grupo de amigas: era plana, quer pela frente quer pelo verso, magricela, não largava os tênis, jeans e blusão! No rosto dava apenas destaque aos olhos que por serem pequeninos não dispensava lápis e rímel para os realçar!
Conseguiram que ele acedesse ao convite de ir todos dias até ao café Moderno, o café onde havia um cantinho destinado aos estudantes. O curioso foi ver que ao fim de uma semana de convívios, ele não tirava os olhos de mim. A princípio perplexa, o certo é que comecei a assimilar a ideia de que era possível alguém tão imaculado interessar-se por uma rapariguita como eu... Até porque, pese embora o facto de fisicamente não ser abonada, sabia que era popular socialmente falando... E porque não me preocupava em ser isto ou aquilo, era eu mesma e permitia-me dizer e fazer coisas sem medo de desagradar fosse quem fosse. Na verdade, partia sempre do princípio que não conseguia agradar, logo, pouco me preocupava em agradar, lógico não? Mas era precisamente aí que eu me tornava diferente. Talvez por isso, não sei, foi a mim que ele escolheu para namorar e quando apareci no liceu como namorada oficial nunca mais pude contar a com a amizade das outras. Viram nisso uma traição e dispensaram-me do grupo!
O meu namoro não durou mais do que 15 dias certinhos. Esgotada a novidade dos beijos e abraços constantes, os longos silêncios dele e monólogos meus deram lugar a um tédio tão grande que me sufocava. Ele nunca tinha nada para contar e eu falava sozinha... Ele queria amassos, eu queria conversas. Quando lhe comuniquei que queria terminar a relação, ele nem queria acreditar. Afinal, não era ele o homem mais atraente do liceu, o mais disputado pelas raparigas? Era. Mas eu não o queria mais. Uma seca.
Foi assim que aprendi aos 16 anos que o melhor de alguém está dentro de si. Que aquilo que aparentamos por fora não prende senão por momentos e que simplesmente existir não faz de nós seres extraordinários. Sermos ricos por dentro de valores, de virtudes, de conhecimentos é o que nos torna interessantes aos olhos dos outros, mantêm a chama e dá-nos vontade de permanecer junto.
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