Quando me fui deitar no domingo à noite, não tinha qualquer dúvida de quem tinha ganho as eleições. Sem maioria, mas ganho. Agora estou perplexa. As declarações de alguns lideres políticos deixam-me incrédula. Afinal numa competição não ganha quem, nem que seja por um voto, vai à frente. Ganha quem tiver uma maioria. Porque se juntarmos os adversários dá mais votos à "esquerda"! Assim entende-se que, um atleta não ganha por milésimos de segundos. Ganha se a vantagem for superior ao total dos seus concorrentes! É isto que alguns andam a dizer!
Podemos não estar todos de acordo com a escolha. Podemos até achar injusta esta decisão. Mas foi o povo que elegeu. E o povo é soberano. Por sufrágio universal decidiu o seu destino e não me lembro de ver nas urnas um grupo radical da direita, de armas na mão, a coagir pessoas a votarem neles! Foram escolhidos em eleições livres e pacíficas. E por muito que doa ouvir, traduzem a vontade de 38% da população votante.
Nesta amazónia de incongruências surgem os líderes do Bloco e CDU, apelando à convergência dos partidos de "esquerda" como quem vende detergentes três em um, garantindo eficácia, mesmo que as linhas mestras de cada ideologia política sejam completamente opostas e ponham em causa a governabilidade do país! Catarina Martins que até tinha feito uma campanha coerente, desaba assim num segundo, para um discurso ditador. Uma ditadura de uma suposta "esquerda" que, por não aceitar um resultado óbvio, tenta contorná-lo corrompendo a vontade dos eleitores.
Não se fazem bons casamentos sem ideais convergentes. E tentar seduzir o PS a coligar com eles é como fazer um casamento de conveniência onde nenhum dos noivos se conhece nem fala a mesma língua, mas fazem-no para obter residência. Ao que parece, pouco interessa se a única coisa em que estão de acordo é serem contra a austeridade. O que importa é unirem-se para impedir que os outros da direita governem. Se depois vão andar às turras todos os dias para implementar uma medida que agrade a todos da "esquerda", isso agora não interessa para nada. Ganhar o poder, mesmo que de forma "ilegítima" é o objectivo. Mesmo traindo a verdadeira vontade de um povo.
Estava longe de imaginar que partidos que enchem discursos sobre democracia e liberdade sejam protagonistas de tamanho atentado. E lembrei-me de repente duma militante ferrenha do Bloco que supostamente era muito minha amiga. A quem dei emprego depois de criar um projecto conjunto. E que, pensava eu, era defensora de valores baseados em direitos iguais, como eu. Da noite para o dia, assim que viu que o negócio que criei já era próspero, alegando ser ela quem lá estava das 8h às 20h, usurpou-me o negócio. Coincidência? Talvez. Mas o certo é que Catarina, tal como minha amiga, assim que soube que o Bloco tinha passado a terceira força política, apoderou-se dos resultados eleitorais reivindicando-os como se fossem vitória dela! Acontece que tal como minha amiga, esqueceu-se que não tem legitimidade para o fazer. Que socialismo e comunismo não se fundem porque não defendem os mesmos princípios ideológicos. E que por muito que se esforce em demonstrar seu poder, 10% dos votos não fazem dela um poder absoluto que lhe permita passar uma borracha nos resultados eleitorais. Tal como dizia Abraam Lincoln " Se quiser por à prova o carácter de um homem, dê-lhe poder".
A haver coligações de esquerda com comunistas, teriam que ser feitas antes das eleições. E assim, de forma clara, apresentavam suas candidaturas e programas em conjunto. Tudo de forma transparente. Feito à posteriori é trair quem votou. Porque nestas eleições, quem votou PS, queria os socialistas no governo. Quem votou CDU e Bloco, queria os comunistas. Quem votou sabia claramente o que queria. Ao juntá-los agora sem ser por vontade explícita de um povo, é fazer política corrupta com os resultados eleitorais.
E assim, com esta presunção de direito ao poder, a esquerda de Catarina e do Jerónimo deu um tiro nos pés e outro na democracia.